O ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) — titular da Fazenda no governo de Michel Temer até abril — quer "tirar o rótulo" de candidato do governo e do mercado à Presidência da República. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele disse que sua candidatura não "representa especificamente" o governo Temer e, sim, seu currículo pessoal e sua atuação na iniciativa privada e no setor público.
— Estou tirando o rótulo. Por exemplo, não sou o candidato do mercado, não sou o candidato do governo, não sou o candidato de Brasília. A minha proposta é a proposta do meu histórico — afirmou Meirelles.
Recém-filiado ao MDB, Meirelles foi lançado oficialmente como presidenciável no mês passado pelo próprio Temer, que desistiu de tentar se reeleger. Na ocasião, o presidente cobrou união do partido em torno da candidatura, que enfrenta resistências internas, como a do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE).
Em resposta ao fato de ter sido integrante do governo até pouco tempo, o ex-ministro repete o mote da sua campanha – de que é candidato da renda, do crescimento, do emprego e da inflação sob controle.
— Mas acredito que as reformas feitas por esse governo são fundamentais e, no Ministério da Fazenda, conseguimos, neste governo, retirar a economia da maior recessão da história e criar dois milhões de postos de trabalho. Isso é um dado inquestionável — afirmou Meirelles, que desconversa sobre a participação de Temer na campanha:
— Isso é uma escolha dele. Minha campanha será aberta a todos, não existe restrição.
O presidente já avisou que não pretende participar diretamente dos palanques eleitorais, mas vem cobrando um candidato alinhado com a defesa do que chama de legado do seu governo.
Para Meirelles, a recuperação da economia mais lenta do que o esperado não vai prejudicar a sua candidatura. Pelo contrário, pode beneficiá-lo porque acontece justamente no momento em que se intensifica o debate eleitoral, argumenta.
Greve
Meirelles também não vê impacto da crise dos combustíveis em sua candidatura, pois, segundo o ex-ministro, sua proposta é de "quem, quando entra no governo, resolve e tem oferecido resultados concretos para população". No auge da crise provocada pela greve dos caminhoneiros, Meirelles participou de reunião no Palácio do Planalto para tratar do assunto.
O ex-ministro também tem acompanhado Temer em agendas do governo consideradas positivas, como entregas de casas, e chegou a sugerir a proposta de um fundo de estabilização para bancar o subsídio aos combustíveis em momentos de alta de preços. Em sua pré-campanha, Meirelles já percorreu 27 cidades desde que deixou o comando do Ministério da Fazenda.
Para defender as políticas implementadas na pasta, Meirelles argumenta que os possíveis resultados econômicos ruins de agora são reflexo das incertezas do cenário eleitoral e não frutos de sua gestão.
— A defesa das políticas implementadas pelo governo é óbvia. São políticas de que participei e que estão tendo grande sucesso. Agora, no momento em que a incerteza eleitoral e candidatos que têm posição forte nas pesquisas começam a propor voltar atrás, há um reflexo na economia — afirmou.
Convenção
Meirelles, por outro lado, conta com Temer para o que elegeu como prioridade no momento: buscar apoio interno dos diretórios estaduais para ser escolhido candidato na convenção, prevista para a última semana de julho. O ex-ministro prepara para as próximas semanas nova bateria de viagens para dialogar e buscar "engajamento" dos emedebistas estaduais.
Ele deve ter adversários na disputa interna. Opositor de Temer, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) quer lançar o senador Roberto Requião (MDB-PR), enquanto o 1º vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (MDB-MG), articula lançar o ex-ministro Nelson Jobim.
— Ele é a melhor alternativa para o momento. Tem conhecimento, tem boa relação com a esquerda e com a direita, foi ministro do Supremo, ministro da Defesa — disse Ramalho.
Meirelles também tem buscado se aproximar de parlamentares da sigla.