A paralisação dos caminhoneiros e os prejuízos que ela causou à economia e à população como um todo mostram que o País precisa de um plano de ação para os próximos anos que leve a economia a uma menor dependência do modal rodoviário para o transporte, disse em entrevista ao Estadão/Broadcast o ex-ministro da Fazenda e pré-candidato à Presidência da República pelo MDB, Henrique Meirelles.
"Em primeiro lugar, nós não precisamos ter uma dependência tão grande de rodovias, de caminhoneiros e, principalmente, das empresas transportadoras", disse o ex-ministro. Para isso, continuou, é preciso diversificar os transportes em ferrovias que garantam o abastecimento, em transporte fluvial e também com transporte de cabotagem.
"É muito importante que nós reforcemos a estrutura de transportes no País. Para isso é necessário investimento em infraestrutura, onde o Brasil conta com a vantagem de haver uma demanda firme para isso.
Segundo Meirelles, se de um lado há demanda por infraestrutura no Brasil, por outro há uma oferta criada pela grande disponibilidade de capitais internacionais que estão dispostos a investir no Brasil "desde que haja um governo que gere confiança de que as regras serão mantidas nos próximos anos".
Para Meirelles, a confiança é um vetor fundamental porque é o que permite ao investidor fazer a programação de seu retorno ao longo do prazo da concessão. De acordo com o pré-candidato, é importante que se olhe o que está acontecendo agora no Brasil por uma perspectiva estrutural de longo prazo. "Existem momentos em que o petróleo cai. Em momentos em que o preço está subindo, como agora, há impressão que o preço do petróleo sobe sempre", ponderou.
Fundo de Estabilização
O ex-ministro defendeu a criação de um fundo de estabilização que, em momentos em que o preço do petróleo caia substancialmente, faça uma arrecadação de tributos que capitalize esse fundo como os fundos soberanos de alguns países que têm grande dependência de commodities.
O fundo seria usado, de acordo com Meirelles, para amortizar os efeitos decorrentes de elevações muito rápidas dos preços das commodities. "Existem mecanismos, sim, que podem ser usados dentro desse processo", disse ministro.
De acordo com ele, a cobrança de tributos para o fundo de estabilização não significa, necessariamente, aumento de impostos. Isso porque a cobrança de tributos seria conjugada com as reformas estruturais que levarão à queda das despesas públicas e ao alinhamento do Brasil aos demais países. "Criaríamos tributos flexíveis, de acordo com a variação dos preços do petróleo. Assim a Petrobras poderia manter a sua política de preço corretamente e manteria a sua saúde financeira", afirmou.
O Brasil, de acordo com o ex-ministro, precisa conviver com a flutuação de preços importantes e das commodities como fazem muitos outros países e como faz o próprio País que tem uma grande reserva internacionais de dólares para fazer frente às variações do câmbio.