Na guerra pelos votos da reforma da Previdência, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (PMDB-MS), é o principal soldado do presidente Michel Temer. Ele completa dois meses à frente da pasta na quinta-feira. Às vésperas da votação, os governistas continuam sem os votos necessários.
Natural de Porto Alegre, e colorado fanático, Marun foi eleito deputado federal no Mato Grosso do Sul, onde desenvolveu a carreira. Ganhou os holofotes em razão da amizade com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) _ hoje, preso _ e pela fidelidade a Temer.
Marun deu a entrevista antes de embarcar para o Rio Grande do Sul, onde passa o Carnaval com a família. E respondeu, mais tarde, sobre a fala do diretor-geral da PF, Fernando Segovia, de que o inquérito contra Temer no caso dos portos poderá ser arquivado.
O que o governo pretende fazer até o dia 19 para garantir o placar de 308 votos para a reforma da Previdência?
Queremos a continuação do apoio da sociedade, fundamental para que cresça o número daqueles deputados dispostos a votarem favoravelmente à Previdência. Da nossa parte, estamos confiantes de que ainda neste mês aprovaremos a reforma. Senão, o próximo presidente vai ter de fazer.
O tempo é curto. Como o governo pretende convencer?
Primeiro, podemos negociar outros pontos. Com exceção de dois itens basilares, o estabelecimento de idade mínima e de um regime de Previdência igual para todos os brasileiros. Segundo, é crescente o apoio da sociedade, de outros setores lúcidos.
O senhor fala de setores lúcidos. É o apoio do empresariado que está engajado?
Não é só empresariado. Você conhece algum economista que seja contra e diga que a reforma da Previdência não é necessária? Setores lúcidos, que estão analisando o quadro sem pensar no seu umbigo e sem posição ideológica.
Deputados que não querem votar estão reagindo à pressão do eleitorado. Como vocês vão reverter essa realidade?
Se tivéssemos 100% da população brasileira esclarecida, teríamos apoio de 90% dos brasileiros à reforma. Teremos esclarecimento suficiente para fazer com que a reforma seja aprovada? Não sei. Então, esse eleitor que pressiona o deputado provavelmente ainda não está suficientemente esclarecido.
No momento que os senhores dizem que o texto pode ser modificado, não compromete a credibilidade da reforma? Quem vai apoiar mudanças na aposentadoria sem saber o que os deputados estão votando?
Essas situações fazem parte do jogo político. Não podemos mandar alguma coisa para o Congresso e dizer que não aceitamos nenhuma modificação. É que existe muita conversa fiada.
O que o senhor quer dizer com conversa fiada?
Conversa fiada é gente que dá palpite, mas não se compromete. Não tenho tempo para perder com palpiteiro. Agora, quem quiser trazer uma proposta lúcida, que saiba o que é a reforma, como o que aconteceu com os policiais.
Essas conversas geraram a flexibilização da reforma para viúvas e viúvos de policiais?
Essa questão partiu do presidente da República, diante da unanimidade entre os líderes das bancadas da base. Depois disso, recebemos entidades representando agentes penitenciários, trazendo a sugestão do mesmo tratamento a policiais e agentes. Pedimos que fossem atrás de votos. Já recebemos também policiais trazendo proposta de transição. Eu digo: "então tá, vamos atrás de votos".
Não aprovar a reforma da Previdência é uma derrota terrível para o governo Temer?
É uma derrota para o Brasil.
Como os senhores vão sair desse processo?
O ano, para nós, está equacionado, tanto que os maiores benefícios são para os futuros presidentes. Temer está pensando como estadista, não só no seu mandato. É claro que, com a reforma aprovada, teremos aquecimento na economia. O ganho fiscal da reforma neste ano é de R$ 5 bilhões, R$ 6 bilhões. Não é nada.
Este ganho fiscal considera o texto atual da reforma? Ou já prevê possíveis mudanças?
É o que está hoje posto.
Se desidratar mais o texto, esse ganho pode diminuir?
Pode diminuir.
Mas para efeitos na economia, vale a pena?
Vale.
Michel Temer é candidato a presidente da República?
Sim, pode ser. Vai depender de muitas coisas, inclusive o Brasil que vamos ter no início de março. Seremos um Brasil em crescimento. Com a reforma, essa ascensão vai se tornar mais forte. Sem a reforma, tende a diminuir. Com a reforma, nosso projeto eleitoral se torna mais viável. Sem a reforma, nosso projeto se torna menos viável.
Sem reforma, não é candidato?
Não chegaria a ser tão fatalista. Pensamos que o grupo de partidos que apoia o governo tenha posição conjunta nas eleições. Pode apoiar um candidato do grupo, hoje estão postos o Rodrigo Maia (presidente da Câmara) e o Henrique Meirelles (ministro da Fazenda). Pode ser o presidente Temer. Hoje ele não quer, mas pode se animar, entendeu? Outra possibilidade é apoiar candidato de fora, que tenha visão de sociedade semelhante à nossa.
Quem, por exemplo?
Geraldo Alckmin. O que queremos é que o grupo avance unido.
E o Luciano Huck?
Não considero, agora, opção apoiável. Se tiver partido que patrocine a candidatura, é elegível.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está falando.
Sinceramente, sempre tive dificuldade para entender os tucanos e o posicionamento do Fernando Henrique. Isso não é novidade.
O senhor diz que a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) é o nome do governo para o Ministério do Trabalho, apesar do desgaste. Até quando, ministro?
Estamos focados na preservação e no respeito às prerrogativas constitucionais do presidente da República. Essa questão é maior do que o nome da Cristiane Brasil como ministra. Se a Cristiane assumir o ministério e tiver alguma atitude que não seja positiva, pode ser exonerada. O que não pode é ser proibida a sua nomeação.
Então, se o Supremo autorizar, ela assume?
Vai tomar posse. Temos confiança de que o Supremo vai autorizar porque a lei é clara.
Os ministérios estão na negociação da reforma?
Não. Teríamos os votos do PTB. O que hoje entendemos é que os partidos realizaram um bom trabalho. Sem dúvida serão ouvidos na sucessão ministerial.
O ex-ministro Geddel Vieira Lima, que está preso e é do seu partido, disse que se sente abandonado. O senhor entendeu isso como um recado para o PMDB ou para vocês aqui no Palácio?
Não. Para mim, não. Não sei se... Na verdade, nunca cheguei a ser amigo do Geddel.
Ele representa ameaça à cúpula do governo?
Não sei se foi o objetivo. Se foi, não é devido. Não movimentou nada. Todos aqui lamentam a situação do Geddel, a situação de outras pessoas que estão lá, mas não há nenhum tipo de temor em relação a qualquer consequência de atitudes que venham a ser tomadas.
Foi visitá-lo na cadeia, como fez com o Eduardo Cunha?
Não fui. Se fosse meu amigo, iria.
A fala do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, de que a investigação contra Temer no caso que apura pagamento de propina nas áreas do porto de Santos poderá ser arquivado provocou reações e críticas. Qual a sua avaliação?
Não existem provas, não existem indícios e não existe sequer o delito. Estranho seria se o diretor dissesse o contrário do que disse. É dever de um diretor-geral acompanhar inquéritos de grande repercussão, até para que não se transformem em instrumento de luta política.