O relatório final de uma investigação independente contratada pela Caixa Econômica Federal, feita pelo escritório Pinheiro Neto, cita um e-mail do gabinete do então vice-presidente da República, Michel Temer, para o vice-presidente afastado do banco Roberto Derziê.
"Conforme contato telefônico, segue o pleito para Superintendente Regional de Ribeirão Preto -SP", diz a mensagem assinada com: "Atenciosamente, Michel Temer."
Como resposta, o então responsável pelo setor de Operações Corporativas da Caixa diz que o pleito seria tratado com prioridade.
Procurado, o Palácio do Planalto afirma que Temer não envia e-mails e que funcionários cuidam do correio eletrônico do presidente. Questionado pela auditoria sobre o e-mail, Derziê afirmou "que se tratava de uma indicação de uma pessoa para o cargo de Superintendente da Região de Ribeirão Preto (SP)".
Na terça-feira, Temer determinou que a Caixa afastasse quatro vice-presidentes, entre eles Derziê. A ordem foi dada após divulgação derecomendação do Banco Central pelo afastamento e do ofício dos procuradores da Operação Greenfield à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, endereçado a Temer.
No documento, os investigadores alertavam que o presidente poderia ser responsabilizado por futuros crimes cometidos pelos VPs da Caixa a partir do dia 26 de fevereiro, prazo final dado pelo Ministério Público Federal (MPF) para que o Planalto afastasses os executivos. Tanto a recomendação do BC como o ofício dos procuradores da Greenfield se baseiam no relatório produzido por Pinheiro Neto.
Sobre a relação de Derziê com Temer aventada por matérias jornalísticas, diz o relatório, "aparentemente, essa informação pode ter algum grau de veracidade, considerando a relação de Roberto Derziê de Sant’Anna com Moreira Franco" e o fato dele "ter sido convidado para ser Secretário Executivo de Relações Institucionais da Presidência da República quando o presidente Michel Temer assumiu o governo".
Investigação
O jornal O Estado de S. Paulo mostrou que a investigação contratada pela Caixa detectou casos de influência política no banco em ao menos quatro vice-presidências. O vice-presidente de Operações Corporativas Roberto Derziê de Sant’Anna também aparece na investigação interna por conta da citação de Joesley Batista, em seu acordo de colaboração, de que ele estaria envolvido no "recebimento de pagamentos indevidos".
Segundo o pedido de afastamento do MPF, troca de mensagens entre o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ex-ministro Geddel Vieira Limaapontam Derziê como intermediador de interesses de Henrique Constantino, dono do grupo Gol, na Caixa. Sobre suas relações políticas, o MPF cita sua proximidade com o ministro da Secretaria de Governo, Moreira Franco. O ministro de Temer teria solicitado, diz o MPF, "informações relativas a status de operações em trâmite na CEF".
Questionado sobre sua relação com Temer, Derziê disse que conversou "poucas vezes" com o presidente no Palácio do Jaburu e que quando trabalhou ia à residência oficial da vice-presidência "tratar da liberação de emendas parlamentares".
Segundo ele, Temer teria pedido que ele ajudasse o governador de Mato Grosso, Pedro Taques, a retomar a obra do VLT. Derziê diz que avisou Taques sobre a inviabilidade da operação uma vez que o Estado tinha garantias a oferecer.