O doleiro Lúcio Funaro afirmou, em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), em agosto, que Michel Temer foi um dos destinatários de propina paga pela Odebrecht e pela Andrade Gutierrez em obra da estatal Furnas, no Rio Madeira, em Rondônia. As duas empreiteiras são sócias de Furnas na Santo Antônio Energia, responsável pela implantação e operação da Hidrelétrica Santo Antônio, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Além de Temer, teriam recebido propina os ex-deputados Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, presos no âmbito Operação Lava-Jato. Funaro não citou os valores da propina.
De acordo com o delator, Cunha lhe contou que a propina foi acertada pelos executivos Benedicto Júnior, da Odebrecht, e Otávio Azevedo, da Andrade.
"Os valores foram recebidos por Eduardo Cunha e, posteriormente, foi repartido entre Henrique Eduardo Alves, Arlindo Chinaglia e Michel Temer", disse Funaro em depoimento anexado à denúncia oferecida por Rodrigo Janot contra Temer por organização criminosa e obstrução da Justiça.
Ainda segundo Funaro, "provavelmente os pagamentos foram feitos parte em espécie e parte em doação de campanha, como era feito de costume na maioria dos casos."
"Cunha costumava ir na casa de Octávio Azevedo, localizada perto do aeroporto, quando ia à São Paulo. Que não sabe precisar, nesse caso, o valor total pago e os percentuais da divisão. Que Arlindo Chinaglia recebeu parte da propina porque era presidente da Câmara e ajudou a convencer o governo a entregar a presidência de Furnas para Eduardo Cunha", explicou.
Em suas delações, os executivos Henrique Valladares, Augusto Roque Dias Fernandes Filho, José de Carvalho Filho e Benedicto Barbosa da Silva Júnior (o "BJ"), todos da Odebrecht, disseram aos investigadores que um grupo de quatro parlamentares recebeu cerca de R$ 50 milhões em propina para ajudar a empreiteira baiana e a Andrade Gutierrez na licitação de Santo Antônio.
Entre os citados pelos delatores, estão dois elencados por Funaro em seu depoimento: Cunha e Chinaglia. Eles teriam recebido R$ 20 milhões e R$ 10 milhões, respectivamente. Os delatores citam ainda o senador Romero Jucá e o ex-assessor de Michel Temer Sandro Mabel (PMDB-GO) que teriam recebido, cada um, R$ 10 milhões. Todos os repasses, segundo os delatores, teriam sido divididos entre os centros de custo da Odebrecht e da Andrade Gutierrez.
Defesa
O Palácio do Planalto disse que a posição de Temer é a mesma contida em nota divulgada na quarta-feira (13). No texto, a presidência da República afirma que as declarações do corretor Lúcio Funaro não são dignas de crédito.
"Versões de delator já apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como homem que traiu a confiança da Justiça não merecem nenhuma credibilidade. O criminoso Lúcio Funaro faz afirmações por 'ouvir dizer' ou inventa narrativas para escapar de condenação certa e segura", diz o comunicado.
O deputado Arlindo Chinaglia não respondeu.
O advogado Délio Lins e Silva Júnior, responsável pela defesa de Cunha, também não retornou aos contatos.
A Odebrecht e a Andrade Gutierrez foram procuradas, mas ainda não se posicionaram.
O advogado Marcelo Leal, defensor de Henrique Alves, não retornou aos contatos.