Raquel Dodge assumiu o cargo de procuradora-geral da República em rápida cerimônia na manhã desta segunda-feira (18), na sede da PGR, em Brasília. Em discurso discreto, ela defendeu a harmonia entre os poderes e ressaltou a importância do Ministério Público Federal (MPF) no combate à corrupção. Ao mesmo tempo, a nova responsável pela Lava-Jato sentou-se em uma mesa na qual apenas a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, não é alvo de inquérito pela operação.
Ao lado, estavam o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Eunício Oliveira – os três são alvos de inquéritos no STF.
A cerimônia foi rápida, durou cerca de 30 minutos. Rodrigo Janot não esteve presente, como já havia revelado, sob a justificativa de seguir procedimentos protocolares. Em discurso com palmas apenas no fim, Raquel Dodge enfatizou a importância do Ministério Público Federal (MPF) em combater a corrupção, mas também de defender os direitos das minorias.
Raquel disse "estar ciente da difícil tarefa" de comandar a PGR, mas que espera garantir que "ninguém esteja acima da lei e ninguém esteja abaixo da lei".
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A nova chefe do Ministério Público Federal (MPF) citou o papa Francisco ao dizer que a corrupção "faz perder o pudor", mas reafirmou a "esperança de dias melhores para o Brasil". Em referência à crise institucional – Rodrigo Janot foi alvo de críticas de Michel Temer e do ministro do STF Gilmar Mendes –, Raquel deu um tom de conciliação.
— A harmonia entre os poderes é requisito para estabilidade da nação — declarou.
Durante o discurso, Cármen Lúcia e Eunício Oliveira olhavam para Raquel, enquanto Temer e Maia encaravam o público, imóveis.
Em seguida, Temer fez um discurso marcado por elogiar o currículo de Raquel e por não citar o nome do antigo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O antigo procurador-geral da República moveu duas denúncias contra o presidente — uma por organização criminosa e obstrução de Justiça, e outra por corrupção passiva. Mesmo sem citar nominalmente Janot, Temer residente deu uma alfinetada.
— Toda vez que alguém ultrapassa os limites da Constituição Federal, verifica-se um abuso de autoridade, porque a lei é a maior autoridade do sistema — afirmou.
Rodrigo Maia, que integrava a mesa de autoridades, é investigado pela Polícia Federal (PF) por supostamente receber R$ 1 milhão em propinas da OAS. Já Eunício Oliveira foi alvo de pedido de inquérito porque teria recebido R$ 2,1 milhões da Odebrecht para aprovar a medida provisória 613, editada em 2013 e que concedia incentivos fiscais aos produtores de etanol e à indústria química.
Raquel Dodge assume em meio à polêmica pela troca de equipe de procuradores que atuavam ao lado de Janot. Ela enfrenta desconfiança de todos os lados quanto à conduta para liderar a Lava-Jato.