Antonio Palocci, ex-ministro dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, afirmou, nesta quarta-feira (6), que atuou ao lado de Lula para tentar barrar as investigações da força-tarefa da Operação Lava-Jato. Palocci fez a revelação em depoimento ao juiz Sergio Morro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, no âmbito da ação que investiga o pagamento de propinas da Odebrecht aos governos em troca de favorecimentos.
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Perto do fim do depoimento do ex-ministro, Moro pede para esclarecer uma frase proferida por Palocci, onde ele diz que "tentei ajudar a que não andassem as investigações da operação Lava-Jato". Após interpretar a frase, o magistrado perguntou: "juntamente com o ex-presidente"?
– Sim. Em algumas oportunidades, eu me reuni com o ex-presidente Lula e com outras pessoas no sentido de buscar, vamos dizer, criar obstáculos à evolução da Lava-Jato. Posso citar casos se o senhor desejar – respondeu prontamente.
– Vamos deixar isso para... não é objeto específico desse processo, vamos deixar então para outra oportunidade essa questão.
A fala do ex-ministro reforça sua tentativa de mostrar que tem informações valiosas para fechar um acordo de delação premiada – que já está em fase de negociação com o Ministério Público Federal (MPF). Logo no início de seu testemunho a Moro, Palocci disse que os fatos narrados na denúncia do MPF são verdadeiros, mas representam apenas uma parcela das irregularidades firmadas entre a Odebrecht e os governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff:
– Os fatos narrados nessa denúncia dizem respeito a um capítulo de um livro um pouco maior do relacionamento da empresa em questão, no caso, a Odebrecht, com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante intensa, movida a vantagens dirigidas à empresa, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, em formas de caixa 1, caixa 2 – disse.
Palocci foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato a 12 anos e 2 meses de prisão.
O Ministério Público Federal aponta neste processo que propinas pagas pela Odebrecht chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal. Este montante, segundo a força-tarefa da Lava Jato, inclui um terreno de R$ 12,5 milhões para Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo de R$ 504 mil.
Defesa
O advogado Cristiano Zanin Martins, defensor do ex-presidente Lula, declarou em nota. "Palocci muda depoimento em busca de delação. O depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas.
Preso e sob pressão, Palocci negocia com o MP acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula.
Como Léo Pinheiro e Delcídio, Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do MP para obter redução de pena.
Palocci compareceu ato pronto para emitir frases e expressões de efeito, como 'pacto de sangue', esta última anotada em papéis por ele usados na audiência.
Após cumprirem este papel, delações informais de Delcídio e Léo Pinheiro foram desacreditadas, inclusive pelo MP."