Às 16h15min de segunda-feira (11), um Audi A8, que custa ao menos R$ 400 mil, acelerou em uma estreita avenida em Santo Amaro, bairro na zona sul da capital paulista. Da calçada, ouviu-se o ronco do potente motor.
Sentado no banco do carona do importado de cor preta e placa cinza, estava o prefeito da cidade, João Doria (PSDB). Com patrimônio declarado de R$ 180 milhões, o político que se autodenomina gestor usa o carro pessoal para compromissos públicos. Cercado de quatro seguranças engravatados, mantém a pose de empresário.
— Não sou político, mas estou na política. É diferente — disse mais tarde a ZH.
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O tucano saía de visita a uma unidade móvel do Doutor Saúde, contêiner itinerante que oferece atendimentos médicos para a população carente. À imprensa, escoltado por mais de uma dezena de secretários e vereadores, anunciou a marca de um milhão de exames pelo Corujão da Saúde, programa que pretende zerar a fila de procedimentos herdados do governo anterior. Como quase tudo que tem acontecido em São Paulo, trata-se de uma parceria com o setor privado.
Fazia 31ºC e o sol a pino aumentava a sensação de calor. Vestindo calça preta e camisa branca, que mais tarde ficaria levemente molhada pelo suor, Doria distribuiu sorrisos e selfies. Cerca de 20, pelo que se pôde contar. Invariavelmente, posa para as fotos, que costumam parar nas redes sociais, com o símbolo de sua campanha — um "v" horizontal com os dedos médio e indicador.
— Acelera, São Paulo — arremata o prefeito após o clique.
O prefeito parece estar em ritmo de eleição. Distribui beijos às mulheres e apertos de mãos aos homens, sempre perguntando o nome de quem o aborda. Também costuma diminuir o ritmo dos passos para ouvir demandas, enquanto um atento assessor toma nota do diálogo. Por onde passa, invariavalmente ouve:
— Doria presidente!
Ele sorri.
A Presidência no horizonte
Após o compromisso em Santo Amaro, o prefeito presidenciável concedeu uma entrevista a ZH. Durante 35 minutos, na sala de reuniões número 3, no quinto andar do Edifício Matarazzo — onde, desde 2004, funciona a sede da administração municipal —, desconversou sobre as eleições. Mas admitiu:
— É difícil um brasileiro não desejar ser presidente.
O ambiente imprime o estilo de Doria, adepto ao que se convencionou chamar de "coxinha". No chão, um felpudo tapete na cor branca. Na parede, um original Romero Britto com a imagem multicolorida da ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira, símbolo de São Paulo. Foi um presente do artista. Ainda mandou enquadrar a capa da Folha de S. Paulo com a manchete "João Doria é eleito no 1º turno, fato inédito" e a primeira página da Istoé com sua imagem e o título "Nasce o anti-Lula".
Na conversa, minimizou a disputa no ninho do PSDB paulista protagonizada ao lado de seu padrinho, o governador Geraldo Alckmin, e demonstrou preocupação com o partido eleito como inimigo. Para o tucano, o PT segue vivo.
Doria admite ser workaholic. Trabalha até 18 horas por dia e dorme somente quatro. Pelo WhatsApp, a primeira mensagem no celular de assessores apita às 6h. A última, por volta das 2h. Ninguém reclama, garante a equipe.
"Muy amigos"
O dia do prefeito havia começado com despachos na prefeitura e um seminário internacional. Ao meio-dia, participou de reunião-almoço no Lide, associação empresarial que reúne 1,7 mil empresas responsáveis por mais da metade do PIB nacional criada por ele mesmo.
Estava ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de Alckmin, em uma estratégia de conferir tom conciliador à briga interna. Nos bastidores, sabe-se que ambos querem concorrer à Presidência em 2018. Publicamente, mantiveram o clima de "muy amigos".
— Estivemos juntos, estamos juntos e continuaremos juntos — disse Doria ao ser interpelado por um repórter da rádio CBN.
Em seguida, posou para mais uma câmera de celular, fazendo o "v" invertido. Na gola do terno, um botom da bandeira do Brasil em formato de coração.