Aos 87 anos, o ex-senador Pedro Simon (PMDB) não defende nem condena a conduta da bancada peemedebista gaúcha, que votou, nesta quarta-feira (03), pela rejeição da denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer. Líder histórica da legenda, o ex-governador entende que os parlamentares tiveram que levar em conta a "complexidade da situação" e que o placar final foi uma "vitória dolorosa".
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– Acho que dentro do aspecto de que nós teríamos que derrubar mais um presidente, botar outro e daqui a poucos meses eleger outro presidente... A situação é muito complicada – avalia.
Nesta entrevista concedida a ZH, por telefone, ele demonstra preocupação com um possível "acordo de cúpula" para deter a Operação Lava-Jato e com o resultado da eleição de 2018. Simon também faz duras críticas ao presidente nacional do PMDB, o senador Romero Jucá (RR), que considera "uma das pessoas mais negativas nesse país".
Confira:
O PMDB do RS sempre se orgulhou de ser diferente do nacional, mas ontem votou pela rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer. O senhor se decepcionou com a postura da bancada gaúcha?
Eu sou totalmente favorável à Operação Lava-Jato, que vem fazendo o que eu durante 30 anos briguei, para que prisão não seja apenas para ladrão de galinha. Agora, ontem foi uma situação impressionante. De um lado, o procurador-geral (Rodrigo Janot) se deixou levar por um exagero de radicalização pessoal contra o presidente da República e houve série de fatos que tornaram a situação muito complicada. Mas é importante salientar que o presidente não foi inocentado. Quando deixar a presidência, o processo reabre e ele vai responder na Justiça comum. Acho que dentro do aspecto de que nós teríamos que derrubar mais um presidente, botar outro e daqui a poucos meses eleger outro presidente... A situação é muito complicada. Seria muito complicado o que aconteceria com o Brasil.
Então, a postura da bancada foi correta? Como o senhor votaria?
Não digo que foi correta. Quero que me entenda: apenas acho que deve ser analisado dentro da complexidade da situação que estamos vivendo. Não sei como votaria, não analisei, não entrei nesse detalhe. Mas entendo que deve ser respeitado que uma pessoa como, por exemplo, o Fogaça deve ter sentido isso.
Como avalia a vitória do governo Temer?
Acho que governo exagerou na concessão de medidas. Foi uma vitória do toma lá dá cá. Quando assumiu, se ele tivesse escolhido um governo acima do bem e do mal, independentemente de agradar os partidos, hoje estaria numa posição realmente significativa. Mas ele fez um governo para ganhar maioria, botou pessoas nos ministérios que não deveria ter posto. Então, ele está governando com maioria na Câmara na base do toma lá dá cá. Isso é muito negativo e vai continuar sendo. Deveria ter feito um ministério, como o Itamar fez, de pessoas isentas e que fossem governar com a sociedade.
Como figura histórica do PMDB, essa vitória do toma lá dá cá te envergonha?
Foi negativo em todos os aspectos, não tenho a menor dúvida. Foi dolorosa essa vitória. Deus queira que seja a última vitória do toma lá dá cá. Acho que a Operação Lava-Jato tem condições de continuar e vai continuar. O presidente Temer não foi afastado, mas o julgamento não foi aposentado. Quando largar o governo, no dia seguinte vai ter que responder não perante ao Supremo, mas perante à Justiça comum.
Qual sua avaliação a respeito das denúncias que pesam contra o presidente?
As denúncias são graves e têm de ser apuradas. O medo que eu tenho, cada vez mais, é de um grande acordo de cúpula: PSDB, PT, PMDB, todos os partidos se reunirem para uns livrarem os outros. Esse perigo realmente existe. À medida em que o Lula está sendo condenado em primeira instância e vai para segunda, podem fazer um grande entendimento e botar uma pedra em cima. É contra isso que temos que lutar.
Seria o "grande acordo nacional" mencionado pelo Romero Jucá, no áudio que vazou?
O Jucá é uma das pessoas mais negativas nesse país. Foi um problema quando ele foi líder do Sarney, depois foi líder do Fernando Henrique, depois do Lula, da Dilma e agora do presidente. É um homem sempre defendendo as coisas absurdas. É lamentável que um rapaz desses chegue à presidência do PMDB. É uma humilhação para nós. Um cidadão que não tem nada de MDB, nunca foi MDB. Pulou de partido em partido, de governo em governo e, de repente, é o nosso presidente. Ele não tem autoridade e nem credibilidade.
O governo tem condições de tocar a agenda das reformas, como a da Previdência?
Tenho a preocupação que ela está sendo votada de forma radical e sem uma profunda análise. Acho que é uma coisa muito séria, deve ser feita, mas com cuidado. Na Itália, na França e até nos Estados Unidos, esse é um problema realmente grave, sério. Seria importante votar, mas não empurrando uma tese garganta abaixo.
Nesse cenário de crise, quem se fortalece para a eleição em 2018?
Essa é a grande pergunta. Depois de uma vitória espetacular da democracia, fizemos uma eleição para presidente e ganhou o Collor. Uma eleição que tinha o doutor Ulysses, o Brizola, o Lula, o Covas, candidatos para todos os gostos. E ganhou um gurizinho lá, um menino que tinha sido eleito não sei como governador de Alagoas. Contra tudo e contra todos, fundou um partido e foi eleito. Temos outro exemplo agora que é o presidente da França. Um cidadão jovem, de 39 anos, cria um partido oito meses antes da eleição e se elege presidente. Isso também pode acontecer no Brasil. Estou realmente preocupado. Há uma antipatia com relação a todo mundo e um desejo de ver o que vai acontecer. A grande preocupação é com relação ao rumo que o Brasil vai ter e que não apareça um outro Collor.