A Câmara sepultou na noite desta quarta-feira (2) a denúncia por corrupção passiva apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Michel Temer. Com 263 votos a favor do presidente, outros 227 contra e duas abstenções, a sessão terminou pouco antes das 22h. A oposição precisava do apoio de 342 deputados para que o processo fosse levado ao Supremo Tribunal Federal.
Iniciada pouco depois das 9h, a sessão foi tensa e marcada por intensos debates entre deputados da oposição e aliados do governo. À tarde, parlamentares protagonizaram momentos de empurra-empurra. No meio da confusão entre deputados governistas e opositores no centro do plenário, cédulas de dinheiro falso foram jogadas pela oposição e governistas inflaram bonecos do "pixuleco" – que faz menção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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A bancada gaúcha foi a segunda a se enfileirar em frente aos microfones para manifestar sua posição. Entre os 31 deputados que compõem a bancada gaúcha na Casa, 18 (58,1%) votaram contra o mandatário, isto é, defenderam a possibilidade de o STF avaliar a abertura de ação penal contra ele por corrupção passiva. Outros 12 (38,7%) votaram contra a abertura e apenas um (3,2%) não compareceu (o deputado Giovani Cherini, do PR, devido a problemas de saúde).
A rejeição da denúncia indica que a ofensiva do Planalto para garantir um resultado positivo surtiu efeito. Aliados do presidente ameaçaram retaliação contra parlamentares que deliberassem a favor do pedido de ação. Temer ainda liberou emendas, cargos e verbas para seduzir indecisos e exonerou 11 ministros com mandatos de deputado para que votassem alinhados ao governo.
Agora, o STF fica impossibilitado de dar andamento ao processo, que permanecerá suspenso até o fim do mandato de Temer e poderá ser retomado quando o presidente deixar o cargo. Mesmo assim, Janot ainda pode apresentar novas denúncias contra o peemedebista – a expectativa é de que o procurador-geral dê entrada, até o fim de seu mandato, em setembro, em pelo menos mais um processo contra o presidente.
Temer havia sido denunciado em 26 de junho por receber propina do grupo J&F, controlador da JBS. Menos de três semanas depois, na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara, conquistou o primeiro êxito, ao ver aprovado um relatório alternativo, elaborado pelo deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), sugerindo o arquivamento da denúncia.