A tarde da última quarta-feira (26) transcorria modorrenta em Brasília, com o Congresso esvaziado pelo recesso parlamentar. Entre os poucos deputados que permaneceram na Capital Federal, enfrentando com galhardia os 33% de umidade relativa do ar, estavam Carlos Marun (PMDB-MS) e Beto Mansur (PRB-SP). Caminhando apressados pelos corredores da Câmara, eles falavam ao telefone, orientavam assessores e manuseavam planilhas de votos.
O ritmo incessante dos deputados é regido pela pressa do governo em sepultar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer. Escalados para impedir a oposição de obter os 342 votos necessários ao prosseguimento da ação penal, Marun e Mansur paravam no Salão Verde apenas para dar entrevistas a jornalistas ávidos por informações num período tradicionalmente marcado pela escassez de notícias. Recém-saídos do Palácio do Planalto, esbanjavam otimismo aos microfones:
– Temos muito mais votos do que o suficiente para derrotar a oposição – afiançava Marun.
– O presidente está tranquilo. Pelo menos 280 deputados estão do nosso lado – assegurava Mansur.
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Com Darcísio Perondi (PMDB-RS), eles formam a tríade da linha de frente do governo na Câmara. Evitaram deixar Brasília durante as férias de inverno dos parlamentares, preferindo organizar com o Planalto a estratégia para a votação da próxima quarta-feira, quando o pedido de ação penal contra Temer vai a plenário. Marun passou apenas alguns dias em Porto Alegre, acompanhando o pai hospitalizado. Mansur fez um bate-e-volta no final de semana a Santos, cidade que já administrou duas vezes.
– Não tem como ficar desligado. Tem muito deputado indeciso ainda, então fico telefonando, monitorando redes sociais. Tenho uma lista de nomes que recebi dos líderes e pretendo conversar com cada um. Todo voto é importante – sintetiza Mansur.
Aos 66 anos, o deputado está no quinto mandato e na quarta filiação partidária. Apesar dos 20 anos de Câmara, jamais teve tamanha proeminência nos debates da Casa, tampouco tanta visibilidade. Vice-líder do governo, é mais um dos integrantes do baixo clero que ascenderam na esteira da crise política que assola o Planalto.
Se Perondi parte para o enfrentamento aberto com a oposição e Marun faz a defesa intransigente do governo, Mansur atua mais nos bastidores, estabelecendo conchavos longes dos holofotes.
Foi assim que, na condição de primeiro-secretário da Câmara, colocou em pauta em setembro de 2016 um projeto de lei que anistiava o crime de caixa 2. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ocupava interinamente a Presidência da República, deixando o comando dos trabalhos para Mansur.
Valendo-se de um acerto prévio entre os partidos governistas e a oposição, ele tentou votar o acordão da impunidade. Foi um pandemônio. Diante da pressão de um grupo de parlamentares e da intensa cobertura da imprensa, ele retirou o texto. Cobrado pela atitude, disse que desconhecia o teor da matéria.
– Não sei um artigo desse projeto, uma linha. Estava apenas cumprindo minha função de brasileiro. Não tenho nada a ver com caixa 2, não estou envolvido na Lava-Jato – desconversou.
Enquanto Mansur usa a política varejista em busca de voos mais altos – no último ano, por duas vezes, anunciou candidatura ao comando da Câmara, retirando o nome em seguida –, Marun é um indiscreto cumpridor de tarefas. Natural de Porto Alegre, mas eleito deputado pelo Mato Grosso do Sul, está no primeiro mandato e já ostenta a desenvoltura de um veterano. Ganhou projeção ao defender aliados encrencados, em especial o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem foi visitar na cadeia usando verba da Câmara. Acabou devolvendo o dinheiro, mas não escapou à má fama.
Aos 56 anos, com 1m90cm de altura e 130kg, Marun não passaria despercebido mesmo em meio ao enxame de deputados que lotam o plenário da Câmara. Foi a verve incansável e a lealdade irrestrita, contudo, que lhe garantiram o status de porta-voz informal do governo, no qual usa a formação em Direito para advogar as teses de defesa do Planalto sem preocupação com eventuais prejuízos eleitorais.
– Não há nenhum constrangimento. Vamos revelar uma força que pensaram que não tínhamos, derrubando a denúncia conta o presidente Temer e reconstruindo o clima para a aprovação das reformas – atesta.