A um ano do início da campanha que decidirá o nome do próximo governador do Rio Grande do Sul, as peças do tabuleiro eleitoral começam a ser posicionadas para a disputa, mas o jogo está longe de engrenar. Em meio à instabilidade da cena política nacional e à crise que ronda os partidos tradicionais, jogadores e estratégias serão definidos apenas no último momento, empurrando para 2018 o debate sobre o futuro do Estado.
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Em anos anteriores, nessa fase da disputa, a eleição já estava no centro das atenções. Líderes partidários traçavam metas, projetavam alianças e estimavam votos. Com o tsunami provocado pela Operação Lava-Jato e o fastio em relação à classe política, a realidade mudou. As dúvidas sobre como se comportarão as siglas e qual será a resposta das urnas desafiam até mesmo os mais experientes analistas.
– Ninguém tem a menor ideia do que vai acontecer. Não se sabe qual será o desfecho da Lava-Jato, se Michel Temer ainda será presidente, se Lula irá concorrer, se surgirá mais algum escândalo. Estamos falando da situação nacional, mas tudo isso se reflete no cenário estadual. Por enquanto, esta é a eleição da indefinição – sintetiza o cientista político Gustavo Grohmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Além das oscilações no centro do poder, a iminência da reforma política em debate no Congresso contribui para embaralhar ainda mais as cartas. A intenção dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), é aplicar parte das mudanças em discussão já em 2018, incluindo a criação de um fundo público para financiar as campanhas e a adoção de um novo sistema eleitoral.
– Precisamos saber quais serão as regras do jogo. Antes disso, é complicado definir qualquer coisa – diz o vice-presidente estadual do PSB e deputado federal Heitor Schuch.
Além do PSB, partidos com grande capilaridade no Estado, como PP e PTB, ainda discutem qual será a sua participação no pleito – se apoiando um candidato ou arriscando voo solo ao Piratini. Nos bastidores, as siglas são alvo do interesse cauteloso daqueles que já têm candidaturas em construção. No PDT, Jairo Jorge foi o primeiro a se apresentar e percorre o Interior desde fevereiro em busca de apoio. Mais recentemente, Eduardo Leite (PSDB) e Mateus Bandeira (Novo) anunciaram o desejo de concorrer.
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A principal interrogação recai sobre os dois partidos que, historicamente, têm polarizado votos no Estado: PT e PMDB, que disputaram o segundo turno em 2014. O candidato natural do PT seria o ex-governador Tarso Genro, mas ele diz que não pretende participar. Diante da negativa, surgem especulações em torno do ex-ministro Miguel Rossetto, do deputado estadual Luiz Fernando Mainardi e do presidente da Assembleia, Edegar Pretto. Por enquanto, nada de concreto.
De seu gabinete no Palácio Piratini, o governador José Ivo Sartori (PMDB) observa os primeiros movimentos em silêncio. Ele tem evitado tratar publicamente da hipótese de reeleição e proíbe os subordinados a tocarem no assunto, mas sabe que sua participação balizará a disputa – a candidatura deverá ser confirmada no ano que vem.
– Sartori vai concorrer, mas vai seguir negando isso até o limite, porque, politicamente, não é vantagem admitir agora. O gringo é matreiro. Diz que não quer, mas tem dado sobejas demonstrações do contrário. Sempre foi assim – diz um interlocutor próximo ao governador.
Nos bastidores, o PMDB se articula para tentar fechar o campo da direita ao redor de Sartori. A ideia é manter ao seu lado o grupo de partidos que já apoiam o governo para evitar a pulverização de votos, mas nada garante o êxito da manobra.