O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou nesta sexta-feira (14) encarar com absoluta normalidade as trocas promovidas por partidos da base aliada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) feitas para barrar a denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção.
Ouça a íntegra da entrevista
Na quinta-feira, a CCJ rejeitou o relatório do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), que recomendava o prosseguimento da denúncia. Na mesma sessão, os deputados aprovaram um relatório contrário, cujo texto defende que o processo deve ser arquivado.
Para chegar ao número de votos necessários, o governo pressionou legendas da base aliada, que substituíram deputados indecisos ou que poderiam votar contra o Planalto. Um exemplo foi o deputado gaúcho José Fogaça (PMDB-RS), que deu lugar a Carlos Marun (RS), integrante da tropa de choque de Michel Temer.
Leia também:
Pressão funciona e apenas um deputado desobedece partido e vota contra Temer
Vitória alivia pressão sobre Temer, mas decisão sobre denúncia fica para agosto
Veja como votou cada deputado na análise da denúncia contra Temer
– Não tem absolutamente nada de irregular. Absolutamente normal, do jogo político – disse, em entrevista ao programa Atualidade na manhã desta sexta (14).
O ministro também rebateu a fala de Zveiter, que insinuou que o governo teria usado dinheiro público, por meio de emendas parlamentares, para comprar o apoio de deputados.
– Se ele (Zveiter) tiver certeza disso, ele deveria entrar com algum tipo de ação contra o governo. As emendas parlamentares são obrigatórias, o governo não tem mais como segurar. Elas são impositivas.
Segundo o ministro, os parlamentares foram substituídos porque não estavam dispostos a votar conforme a orientação dos partidos (no sentido de barrar a denúncia). Ele citou o caso de siglas como PMDB e PR, que "fecharam questão" para votar com o Planalto.
No jargão político, a expressão significa que todos os parlamentares da sigla são obrigados a votar conforme a orientação do partido, sob pena de sofrer punições – entre elas, a expulsão da legenda.
– O que mobilizou as trocas foi a orientação do partido. Como havia alguns deputados que não tinham facilidade de assimilar essa orientação partidária, eles foram substituídos – alegou.
O ministro também afirmou que o presidente Michel Temer ficou "feliz" com a decisão da CCJ e avaliou que o governo não ficou frustrado com o fato de a votação da denúncia em plenário ter ficado somente para agosto.
O temor do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), era de que não houvesse quórum caso a denuncia fosse apreciada nesta sexta ou na próxima segunda-feira (17), portanto antes do recesso parlamentar.
– O governo não tem mais preocupação em colocar quórum. Quem tem preocupação é quem quer que seja colocada a denúncia. Logo, a oposição –afirmou.
Questionado sobre a votação da denúncia no plenário – marcada para o dia 2 de agosto –, o ministro-chefe da Casa Civil afirmou que, somados os votos dos partidos que fecharam questão com o governo, chega-se a 207. Um deles é o próprio PMDB. Além desses, o ministro calcula que terá votos também nas bancadas do PSDB, do PSB e do Democratas.
– Isso tudo soma acima dos 207. Aí você vai entender porque a oposição não quer dar quórum.
O ministro também comentou os boatos de que o governo estaria disposto a retirar ministérios do PSDB e entregá-los para partidos que compõem o chamado "centrão", em troca de votos favoráveis a Temer. Padilha negou que o governo esteja planejando uma reforma ministerial e disse que o Planalto, primeiro, está interessado em conquistar o apoio da ala do PSDB que hoje não vota com o governo.
– Daí porque não se tem que falar nesse momento em reforma ministerial – ponderou.
Sobre a posição de tucanos influentes na legenda, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Padilha analisa que a posição é mais "acadêmica" e "intelectual" e distante da realidade do Congresso.
– Ele é um sociólogo reconhecido. Sob o ponto de vista acadêmico e intelectual, ele criou uma convicção de que seria melhor essa saída (renúncia de Michel Temer). Mas, entre a academia e o Congresso Nacional, nós temos uma distância bastante longa.