Há pouco mais de um ano, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), preso pela Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira (3), era empossado como um dos integrantes do então recém-formado primeiro escalão do governo do presidente Michel Temer, ocupando a chefia da Secretaria de Governo. Cerca de seis messes após ser nomeado para o cargo, Geddel pediu demissão após Marcelo Calero, ex-ministro da Cultura de Temer, afirmar que o ex-colega o pressionou para liberar obra na Bahia.
Leia mais:
Geddel Vieira Lima é preso pela Polícia Federal
Polícia Federal realiza ação contra cúpula do sistema de transporte do RJ
Força-tarefa da Lava-Jato nega ameaça de "abandonar os cargos"
Apontado como um dos principais interlocutores de Temer, Geddel é figura próxima do presidente há duas décadas. O baiano tem reputação de ser um articulador hábil, com trânsito excelente no Congresso, o que ajudou Temer a obter votos pelo impeachment de Dilma Rousseff no ano passado.
O peemedebista foi ministro da Integração Nacional do governo Lula, entre 2007 e 2010. À frente da pasta, foi acusado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de ter beneficiado seu Estado com repasses desproporcionais de verbas.
Deputado federal por cinco mandatos consecutivos, fracassou na tentativa de eleger-se governador da Bahia, em 2010. Após a derrota nas eleições em seu Estado, foi nomeado vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa, entre 2011 e 2013. Para justificar a prisão de Geddel, a força-tarefa da Lava-Jato afirma que o político atuou para tentar obstruir investigação que apura irregularidades na liberação de recursos da Caixa.
Confira o que pesa contra Geddel:
- A prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) foi baseada nos depoimentos de Lúcio Funaro, operador do ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do empresário e delator Joesley Batista e do diretor jurídico do grupo J&F, controlador da JBS, Francisco de Assis e Silva.
- No pedido de prisão, Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF) sustentam que Geddel vinha tentando obstruir as investigações, em especial as tentativas de acordo de delação premiada tanto de Funaro quanto de Cunha.
- Conforme o MPF, Geddel teria atuado para "assegurar que ambos recebam vantagens indevidas". Além disso, teria enviado mensagens de WhatsApp e ligado para a mulher de Funaro várias vezes, sob o codinome de "Carainho". O objetivo era saber se Funaro pretendia se tornar delator e, com isso, "constrangê-lo a não fechar o acordo".
- A primeira ligação de Geddel, segundo os registros oficiais, foi às 22h59min de 17 de maio, horas depois da divulgação da delação da JBS pelo jornal "O Globo".
- Os contatos telefônicos são datados de 17, 18, 20, 23, 24, 29 e 31 de maio e de 1 de junho deste ano. No dia 18 de maio, a PF deflagrou a Operação Patmos, que cercou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), prendeu sua irmã Andrea e seu primo Fred, a partir da delação da JBS.
- Para os investigadores, os "elementos deixam claro que Geddel continua agindo para obstruir a apuração dos crimes e ainda reforçam o perfil de alguém que reitera na prática criminosa".
- Além de autorizar a prisão, a Justiça acatou os pedidos de quebra de sigilos fiscal, postal, bancário e telemático do ex-ministro.
A Operação Cui Bono
- Antes disso, Geddel já era investigado na Operação Cui Bono ("A quem beneficia?", em latim), deflagrada pela PF em 13 de janeiro, sobre irregularidades cometidas enquanto ocupou a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal (CEF), entre 2011 e 2013.
- A investigação começou a partir da análise de conversas registradas em um telefone celular apreendido na casa de Cunha.
- As mensagens seriam indícios de que Geddel e Cunha atuavam para garantir a liberação de recursos da CEF a empresas que pagavam vantagens indevidas aos dois e a outros integrantes do esquema.
- Entre os beneficiados estariam companhias do grupo J&F, que controla a JBS, cujos acionistas fizeram delação.
As delações da Odebrecht
- Geddel foi citado em várias delações de executivos da Odebrecht, segundo as quais teria recebido propina entre 2007 e 2010, quando estava à frente do Ministério da Integração Nacional, no governo Lula.
- Os ex-executivos Marcelo Odebrecht, Cláudio Melo Filho e João Antônio Pacífico Ferreira disseram ainda que o baiano – apelidado de "Babel" nas planilhas de propina da empresa – foi destinatário de "vantagens não contabilizadas" para as campanhas em 2006 e 2014.
- Segundo Melo Filho, Geddel teria recebido até mesada fixa da empreiteira naquela época.
A saída do governo Temer
- Amigo pessoal de Michel Temer (PMDB), Geddel deixou o governo após ter sido acusado de pressionar o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, a liberar uma obra no centro histórico de Salvador.
- Geddel é dono de um apartamento em um edifício cuja construção foi embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), subordinado à pasta da Cultura.
- Na carta de demissão, ele se referiu a Temer como "fraterno amigo". Declarou que "avolumaram-se as críticas" contra ele e disse que o "limite da dor que suporta é o sofrimento da família". Na Secretaria Geral de Governo, Geddel era responsável pela articulação política do Planalto.
*Zero Hora