Em razão da recusa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em realizar o interrogatório por meio de videoconferência, o juiz Sergio Moro, responsável pelas ações da Operação Lava-Jato que tramitam em primeira instância, na Justiça Federal de Curitiba, confirmou para o próximo 13 de setembro um novo interrogatório presencial do petista. Desta vez, na ação penal em que o petista é réu por suposto recebimento de propinas da empreiteira Odebrecht.
Moro havia sugerido que o novo depoimento de Lula fosse realizado por videoconferência – o ex-presidente seria ouvido na Justiça Federal em São Paulo, evitando seu deslocamento a Curitiba, onde fica a 13ª Vara Federal, de titularidade de Moro.
O juiz alegou que a medida poderia evitar "gastos indesejáveis", referindo-se ao aparato de segurança pública mobilizado da primeira vez em que ele e o petista se encontraram – em maio passado, Lula foi interrogado por Moro pela primeira vez nos autos da ação penal do caso triplex. Na ocasião, milhares de manifestantes tomaram as ruas de Curitiba, em apoio a Lula.
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Apesar da sugestão do juiz, Lula abriu mão da videoconferência. Por meio de seus advogados, o ex-presidente comunicou que é seu desejo depor pessoalmente a Moro.
"Diante da recusa, o interrogatório será presencial", decidiu o juiz da Lava-Jato nesta sexta-feira (28).
Moro também resolveu que a audiência será gravada da mesma forma como já foi feito em ação penal conexa.
Neste processo, segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Lula é acusado de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro em razão de contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht. A acusação aponta que parte das propinas pagas pela Odebrecht foi lavada mediante a aquisição, em benefício do ex-presidente, do imóvel localizado na Rua Dr. Haberbeck Brandão, 178, em São Paulo, em setembro de 2010, que seria usado para a instalação do Instituto Lula.
A força-tarefa da Lava-Jato afirma que o acerto do pagamento da propina supostamente destinada ao ex-presidente foi intermediado pelo então deputado federal Antonio Palocci (PT-SP) – ex-ministro de Lula e Dilma –, com o auxílio de seu assessor parlamentar Branislav Kontic, que "mantinham contato direto com Marcelo Odebrecht, auxiliado por Paulo Melo, a respeito da instalação do espaço institucional pretendido pelo petista".
De acordo com os procuradores do MPF, valores destinados a Glaucos da Costamarques – primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula –, por sua atuação na compra do terreno para o Instituto Lula, foram repassados para o ex-presidente na forma da aquisição da cobertura vizinha a sua residência em São Bernardo de Campo.
A denúncia aponta que R$ 504 mil teriam sido usados para comprar o apartamento vizinho à cobertura de Lula. A nova cobertura, utilizada pelo ex-presidente, foi adquirida no nome de Costamarques, "que atuou como testa de ferro de Luiz Inácio Lula da Silva", segundo o MPF. As investigações indicam "que nunca houve o pagamento do aluguel até pelo menos novembro de 2015".
Os advogados de Lula negam taxativamente que ele tenha recebido propinas da Odebrecht.