O desconforto com as menções de magistrados em delações, a falta de um nome de consenso para sucessão de Michel Temer, prováveis ações no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre eleições diretas ou indiretas e o receio do mercado de atraso demasiado na votação das reformas no Congresso pesaram no contexto que levou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a absolver a chapa Dilma-Temer.
A decisão da Corte já era aguardada, tanto por Temer quanto pela ex-presidente Dilma Rousseff. No caso do atual titular do Planalto, o resultado sepultou apenas um dos seus problemas, já que Temer enfrenta investigação no STF e já mobiliza a base parlamentar para barrar denúncia a ser apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Em análises de juristas e políticos alinhados ao governo, as citações de magistrados por delatores da Lava-Jato também ajudaram a construir a maioria pela absolvição. Por isso, a disposição de criticar as versões apresentadas pelos colaboradores, como fez Napoleão Nunes Maia Filho, mencionado por executivo da JBS.
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Desde segunda-feira, ministros, deputados e auxiliares diretos de Temer não escondiam a confiança na absolvição do presidente, descartando a possibilidade de pressionar pelo pedido de vista de algum dos ministros.
Temer contou com a disposição dos ministros do TSE em rejeitar a ideia de resolver a crise política por meio do tribunal, conforme especulavam tucanos após a divulgação do áudio da conversa do presidente com o empresário Joesley Batista.
Avaliações de bastidores indicam que parte do colegiado não pretendia ampliar a instabilidade, deixando o futuro de Temer na esfera criminal, dentro da Lava-Jato, conforme apontaram nos votos de Napoleão e Admar Gonzaga.
A posição foi capitaneada pelo presidente do TSE, Gilmar Mendes, que disse que o TSE não era "joguete de ninguém".
A hesitação do PSDB para sair da base de Temer e a briga entre tucanos, democratas e peemedebistas para ungir um sucessor do presidente fortaleceram a posição na Corte. Nos bastidores, o próprio Gilmar é citado no PMDB como alternativa em eleição indireta no Congresso.
O Planalto teve no presidente do TSE um aliado. Amigo e conselheiro de Temer, ele mantém desde o ano passado conversas e visitas ao peemedebista, dentro e fora da agenda oficial do presidente da República. No governo, inclusive, nomeações de cargos em ministérios são atribuídas ao magistrado, com destaque para espaços no Ministério da Justiça.
No TSE, o término do mandato de dois ministros, que ocupavam as cadeiras reservadas a advogados, beneficiou o governo. Em abril, na primeira sessão para discutir o caso, a composição da Corte trazia Henrique Neves e Luciana Lóssio, cujos votos eram incertos. Eles foram substituídos por Gonzaga e Tarcisio Vieira, que votaram pela absolvição da chapa.
Nos últimos dias, a base ainda foi mobilizada para garantir afagos. Na quarta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, dominada por peemedebistas e tucanos, aprovou a indicação de um sobrinho de Napoleão para o Conselho Nacional do Ministério Público, que ainda precisa da chancela do plenário da Casa.
A escolha do magistrado Luciano Nunes Maia nasceu por deliberação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde o tio ilustre também é ministro. Procuradores reclamam nos bastidores de pressão do palácio em favor do nome de Luciano, que negou qualquer interferência de Napoleão.
Apesar dos problemas políticos, Temer busca demonstrar que segue governando e cumprindo suas agendas. Nesta sexta-feira (9), participou do aniversário de 152 anos da Batalha Naval do Riachuelo, no Grupamento de Fuzileiros Navais, em Brasília.