O advogado Marcello Miller, ex-assessor do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que "não cometeu nenhum ato irregular" desde que deixou a Procuradoria-Geral da República. Sócio do escritório de advocacia que trabalhou no acordo de leniência do Grupo JBS, Miller foi citado por Michel Temer na tarde desta terça-feira (27), quando o presidente sugeriu que ele teria "recebido milhões" em função do acordo.
"Não cometi nenhum ato irregular, mas não responderei às afirmações a meu respeito pela imprensa", afirmou o advogado, em comunicado a imprensa. "Apenas me manifestarei perante as autoridades com competência para examinar os fatos e com interesse na aferição da verdade."
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Durante pronunciamento em Brasília, Michel Temer afirmou que Marcello Miller – a quem se referiu como "homem da mais estrita confiança do senhor procurador-geral (Janot)" – deixou a PGR para "trabalhar em empresa que faz delação premiada para o procurador-geral". Apesar de não citar nome, o presidente da República insinuou que Rodrigo Janot se beneficiou financeiramente da remuneração de Miller.
O jornal Folha de S.Paulo aponta que, desde o final de 2014, Miller era um dos principais auxiliares do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nas investigações dos desdobramentos da Operação Lava-Jato sobre autoridades com foro privilegiado. Ele participou de diversos acordos de delação premiada de réus e investigados, como os executivos da construtora Odebrecht.
No último dia 4 de março – três dias antes de o empresário Joesley Batista, da JBS, gravar o presidente Temer no Palácio do Jaburu –, Miller anunciou que estava deixando a PGR para ingressar no escritório Trench, Rossi & Watanabe Advogados.
A ida do ex-procurador ao escritório de advocacia gerou mal-estar no Ministério Público Federal durante a divulgação da delação premiada de Joesley Batista. Na ocasião, a PGR emitiu uma nota à imprensa em que afirmava que Marcelo Miller "não participou das negociações do acordo de colaboração premiada dos executivos do grupo J&F".
Segundo a Folha, a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu em 26 de maio uma investigação interna – chamada oficialmente de Procedimento Preparatório (PP) – para esclarecer quais as funções exercidas por Marcelo Miller no escritório de advocacia. Em nota, a Procuradoria afirma que o procedimento "antecede a abertura de inquérito civil e tem o objetivo de reunir informações que podem justificar a continuidade ou o arquivamento da investigação".
"No âmbito do PP, já foram solicitadas informações acerca do ingresso de Marcelo Miller no escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que representou a holding J&F durante parte das negociações que levaram ao fechamento de acordo de leniência entre o grupo econômico e o MPF. Também foram pedidos esclarecimentos à seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro, onde um procedimento interno apura o caso", diz a nota.
* Zero Hora, com agências