De homem da mala a candidato a homem-bomba. Sem foro privilegiado após Osmar Serraglio (PMDB-PR) recusar o convite para comandar o Ministério da Transparência, o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) fica mais vulnerável perante novas investidas da Operação Lava-Jato e não descarta a delação como "último recurso".
Receoso com o impacto do acordo na luta pela sobrevivência política, o presidente Michel Temer chegou a avaliar transformar em ministro da Transparência ou Cultura outro deputado do PMDB-PR, o que seguraria o suplente Loures na Câmara com a prerrogativa de ser processado e julgado no Supremo Tribunal Federal (STF). A repercussão negativa forçou o recuo temporário, apesar de a manobra não ter sido arquivada pelo Planalto.
– Para evitar especulações, a base avisa que nenhum deputado do PMDB do Paraná será ministro – assegurou o vice-líder do partido, Carlos Marun (PMDB-MS).
Leia mais
Temer pede sorteio de relator no STF e separação da investigação sobre Aécio
Janot diz que Temer admitiu encontro e pede autorização do STF para ouvi-lo
Rocha Loures sinaliza fazer delação
Flagrado ao receber uma mala com R$ 500 mil do diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, durante ação controlada da Polícia Federal, Loures era assessor especial do presidente até março. Na conversa gravada por Joesley Batista, Temer o indicou para tratar de "tudo" com o empresário.
Depois da eclosão da delação da JBS, Loures foi afastado pelo ministro Edson Fachin do mandato de deputado que assumiu com a assunção de Serraglio ao Ministério da Justiça, porém manteve o foro. A saída do conterrâneo, que ontem declinou da oferta para seguir na Esplanada, aumentou a apreensão no Planalto.
Orientado pela mulher e pela filha a recusar o convite, Serraglio estava disposto até a tarde de segunda-feira a ficar na Transparência, mesmo chateado por ter sido avisado da demissão pela imprensa. Contudo, as críticas de eleitores e os apelos de amigos pesaram. À noite, Serraglio conversou com parlamentares mais próximos, que o apoiaram a voltar à Câmara. Ontem pela manhã, comunicou a decisão ao líder do PMDB, Baleia Rossi (SP), que repassou a mensagem a Temer.
– Se ele não servia na Justiça, não serve na Transparência. O Loures não é problema do Serraglio, que vai cuidar do mandato dele e da reeleição – afirma Luis Carlos Heinze (PP-RS), amigo do ex-ministro.
Preocupado, Temer tenta, por meio de interlocutores, convencer Loures de que ele "não foi abandonado". O ex-deputado retornou a Brasília com a mulher, que está grávida. Aliados o descrevem como "abalado" e "envergonhado", mas sem mágoas em relação ao presidente, apesar de emissários sondarem a Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre eventual delação. Advogado de Loures, Cezar Bitencourt é contrário ao acordo, porém não rechaça a possibilidade.
– Sem foro, é óbvio que ele fica mais vulnerável, mas a delação seria um último recurso. Confio em uma defesa técnica – diz Bitencourt.
O criminalista confia que a investigação de Loures seguirá no STF, já que ele figura no mesmo inquérito de Temer em razão da "conexão dos fatos". Conforme a assessoria do STF, caberá a Fachin manter o caso do ex-deputado na Corte ou remetê-lo à primeira instância. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o processo da mulher do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Em março do ano passado, o ministro Teori Zavascki desmembrou a investigação sobre contas ilegais da família de Cunha na Suíça. O processo foi parar nas mãos do juiz Sergio Moro, que, nesta semana, por falta de provas, absolveu a mulher do peemedebista, Cláudia Cruz.
Por ora, o único pedido de prisão de Loures segue no STF, onde a PGR recorreu da negativa de Fachin. No Planalto, paira o temor de nova ação da Lava-Jato tendo o ex-assessor de Temer como alvo, em investigação sem autoridades com foro, permitindo prisão temporária ou provisória.