O executivo da construtora Odebrecht Valter Lana detalhou como se deu a negociação de R$ 250 mil supostamente repassados ao PC do B em 2010, durante campanha de Tarso Genro (PT). No depoimento prestado em regime de colaboração premiada, disse que a intenção da construtora era doar o dinheiro na via caixa 2 à campanha do petista, mas que a oferta foi recusada por Estilac Xavier, então coordenador da campanha do PT e pessoa designada para negociar as referidas contribuições.
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O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e ex-deputado estadual pelo PT exigia que a doação fosse feita de forma legal. No entanto, segundo Lana, uma alternativa foi oferecida: doar em caixa 2 para o PC do B, que estava na aliança encabeçada pelo PT.
– O PC do B toparia receber esse dinheiro (de caixa 2) – disse Estilac, segundo o delator.
Estilac, então, teria intermediado um encontro entre uma pessoa chamada André, ligada ao PC do B, com quem Lana concretizou a doação não declarada. Com isso, nas palavras do executivo, o "dinheiro (de caixa 2) que era para ser do PT, acabou indo para o PC do B", destacou Lana. Mesmo tendo se encontrado com André, o representante da Odebrecht diz não saber qual era a função exata dele junto à legenda
– Este André eu não sei quem é. Encontrei com ele uma vez – disse Lana.
O caso será enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde Estilac tem prerrogativa de foro em função do cargo de conselheiro do TCE. Como não tem foro no Supremo Tribunal Federal (STF), o relator da Lava-Jato na Corte, ministro Edson Fachin,determinou o envio ao STJ do depoimento de Valter Lana e dos documentos apresentados por ele com as supostas provas do repasse a Estilac. Caberá ao tribunal decidir se instaura inquérito para investigar o conselheiro.
Um dos quadros mais tradicionais do PT no Estado, Estilac esteve no escalão de praticamente todas as administrações do partido na prefeitura de Porto Alegre. Ex-vereador e deputado, era secretário-geral do governo Tarso Genro, em 2011, quando foi indicado para a vaga no TCE. Foi a primeira vez que o partido conseguiu nomear um filiado para o conselho do tribunal. Atualmente, ele é o corregedor-geral do órgão, sendo responsável por fiscalizar o trabalho dos servidores, inclusive dos demais conselheiros.
O atual presidente estadual do PC do B também estava à frente do partido em 2010. Adalberto Frasson nega que a legenda tenha recebido o dinheiro de caixa 2.
– Ele (Lana) vai ter de explicar quem é esse André. Eu também não sei quem é. Não havia nenhum tesoureiro com esse nome, e o partido não recebeu esse dinheiro – garantiu.
Zero Hora procurou Estilac, mas sua assessoria disse que ele está de férias, fora de Porto Alegre, e que não fez contato com o gabinete. O Tribunal de Contas, contudo, divulgou uma nota oficial emitida pelo conselheiro: "Informo à sociedade gaúcha que me pronunciarei a respeito da manifestação do ministro Edson Fachin quando dela tomar conhecimento através do acesso aos autos."