Em sua delação premiada, o empreiteiro Marcelo Odebrecht reconheceu que era "errada" a sua relação com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. A convivência entre os dois funcionava como uma via de mão dupla: de um lado, Marcelo tinha acesso direto a Mantega, recorrendo ao ministro para resolver questões que atingiam os negócios da Odebrecht; de outro, Mantega pedia que a empreiteira, uma das maiores doadoras de campanhas eleitorais, destinasse dinheiro ao PT.
– É aquela história: você cria uma relação que é errada, uma relação que não deveria precisar. A maior parte das empresas que não tem esse acesso (direto ao ministro) não consegue nem resolver seus problemas. Na verdade, de certo modo ele (Mantega) me escutava, me dava acesso à agenda, eu podia ter reuniões com ele duas vezes por semana – disse Marcelo.
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O ex-mandatário da maior empreiteira brasileira avalia que a "facilidade" para manter uma relação direta com Mantega era favorecida pelo volume de doações da Odebrechet.
– As coisas que a gente levava (a Mantega) eram até coisas legítimas, pra destravar um financiamento, é o orçamento do Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarino). Eu não pedia nada a ele que não fosse correto, agora o errado está em que eu tinha o acesso a ele baseado em eu ser um grande doador. A grande ilicitude está aí. A gente acaba racionalizando de uma maneira errada. Mas não é normal, não se pode considerar normal um negócio desses – reconheceu o empreiteiro.
Segundo Marcelo Odebrecht, quando Mantega o chamava para alguma reunião, já se sabia que "era para fazer o pedido de alguma coisa".
– Ele (Mantega) me chamava pra dizer "preciso que você autorize cinco pro Vaccari (João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT), ou não sei quanto" e eu aí eu aproveitava que ele tinha me chamado e já metia uma pendência que eu tinha na época – detalhou o executivo. – Por exemplo, muitas vezes eu ia lá fazer pedido, e no final da reunião, (Mantega dizia) "mas tem aquele nosso amigo, o Vaccari, o João Santana, precisa de 10 a 20". Não era um vínculo direto, mas era como se fosse uma relação de mão dupla que ele tinha em mim um grande doador e eu tinha uma agenda e um acesso a ele – comentou Marcelo.
*Estadão Conteúdo