Por suposta participação em irregularidades envolvendo a empreiteira Odebrecht, a ex-presidente da República Dilma Rousseff aparece em duas petições – de um total de 201 – que o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato do Supremo Tribunal Federal (STF), remeteu a juízes de outras instâncias. Caberá a eles avaliar se cabe a abertura de inquéritos.
Em uma das petições,de número 6.803, a petista aparece ao lado de Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha da ex-presidente à reeleição, em 2014. Na outra, de número 6.664, é citada junto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega.
No primeiro caso, a petição foi remetida por Fachin ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, e tem por base a delação do executivo Alexandrino de Salles Ramos de Alencar, da Odebrechet.
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Na delação, Alencar relatou, segundo a petição, "o pagamento de vantagens indevidas, não contabilizadas, no âmbito da campanha eleitoral de Dilma Vana Roussef à Presidência da República no ano de 2014, sendo que tais repasses foram implementados por intermédio do assessor Manoel Araújo Sobrinho e a pedido de Edson Antônio Edinho da Silva (Edinho Silva)". Atualmente, Edinho é prefeito de Araraquara (SP).
Veja o que disse Alexandrino de Alencar:
A segunda petição, encaminhada por Fachin à Seção Judiciária do Paraná, baseou-se nas delações de Alencar e dos executivos Emílio Alves Odebrecht, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, Marcelo Bahia Odebrecht, Luiz Eduardo Soares e Pedro Augusto Ribeiro Novis.
Conforme o documento, os delatores narram "o desenvolvimento das relações institucionais entre o Grupo Odebrecht e o governo federal, a criação do Setor de Operações Estruturadas, a criação da empresa Braskem, os pagamentos que teriam sido feitos ao governo e o funcionamento das planilhas 'Italiano' e 'Pós-italiano', em suposta referência aos períodos em que Antônio Palocci e Guido Mantega ocuparam cargos no governo".
Ainda conforme a petição, "Emílio Odebrecht, de seu turno, descreve o relacionamento mantido com o ex-presidente Lula desde sua campanha, os motivos pelos quais passou a contribuir para ela e seu objetivo de mudar o rumo do setor petroquímico nacional". Já Pedro Novis "relata, em termos gerais, o relacionamento do grupo empresarial com os ex-presidentes Lula e Dilma".
No documento, Fachin não especifica o que foi dito contra a ex-presidente. Mas, em sua delação, Marcelo Odebrecht atribuiu a ela conhecimento da suposta prática de caixa 2. O delator afirmou, por exemplo, que, em 2013, o então ministro da Fazenda Guido Mantega pediu recursos para a campanha presidencial da petista, que disputaria eleições no ano seguinte. Em troca, Mantega teria atuado junto ao governo e também no Congresso para a aprovação de uma medida provisória para beneficiar a Braskem, outra empresa ligada ao Grupo Odebrecht.
A seguir, assista a alguns dos vídeos da delação de Marcelo Odebrecht relacionados à petição de número 6.664, nos quais ele cita Lula, Dilma, Palocci e Mantega, entre outros:
No vídeo abaixo, Marcelo Odebrecht fala sobre suposto pedido de R$ 50 milhões para uma das campanhas de Dilma:
Em nota divulgada por sua assessoria, Dilma declarou enfaticamente que "nunca pediu recursos para a campanha ao empresário". Refutou também "as insinuações de que tenha beneficiado a construtora" e afirmou que "o senhor Marcelo Odebrecht faltou com a verdade".
"É fato notório que Dilma Rousseff nunca manteve relação de amizade ou de proximidade com o senhor Marcelo Odebrecht. Muitas vezes os pleitos da empresa não foram atendidos por decisões do governo, em respeito ao interesse público. Essa relação distante, e em certa medida conflituosa, ficou evidenciada em passagens do depoimento prestado pelo senhor Marcelo Odebrecht", assinalou o texto da equipe da ex-presidente.
Dilma sustentou ainda que "é mentira" que tivesse conhecimento de "quaisquer situações ilegais que pudessem envolver a Odebrecht e seus dirigentes, além dos integrantes do próprio governo ou mesmo daqueles que atuaram na campanha da reeleição".
"Ele (Odebrecht) não consegue demonstrar tais insinuações em seu depoimento", desafia a petista. "E por um simples motivo: isso nunca ocorreu. Ou seja: o senhor Marcelo Odebrecht faltou com a verdade".
A ex-presidente também tem o nome citado em uma outra petição, de número 6.681, aberta contra seu ex-assessor especial, Anderson Braga Dorneles. Nesse caso, Marcelo Odebrecht declara que Dorneles teria supostamente recebido R$ 350 mil do Setor de Operações Estruturadas, área que cuidava dos pagamentos não contabilizados. Conforme registrado na petição, "objetivava-se, com tal ação, o repassasse à então presidente da República informações de interesse do Grupo Odebrecht, incluindo notas técnicas emitidas pela a respeito de representantes de países pelos quais a Presidente empreendia viagens".
Veja o que Marcelo Odebrecht disse sobre Dorneles:
Todas as suspeitas levantadas são negadas, tanto por Dilma, quanto por Dorneles, Lula e os ex-ministros Mantega e Palocci.
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