Ex-diretor-geral do Daer e ex-assessor de diretoria do Dnit, José Francisco Thormann é o alvo principal de operação da Polícia Federal que apura recebimento ilegal de recursos por meio de uma empresa de fachada.
Mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem na residência dele, em Porto Alegre, e em um escritório de advocacia. Sete pessoas são investigadas pela suposta prática dos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e falsidade ideológica. Não ocorreram prisões. Com autorização da Justiça Federal, foram bloqueados cerca de R$ 3 milhões em patrimônio dos suspeitos, incluindo um imóvel em Porto Alegre e outro em Brasília, além de ativos de um empreendimento em Gramado.
A empresa supostamente utilizada por Thormann, diretor-geral do Daer entre 2011 e 2012, para receber propina é a Globalmeta Participações e Administração Ltda. Em novembro de 2012, ZH publicou reportagem revelando que o então chefe do departamento estadual de estradas detinha uma procuração que lhe atribuía amplos poderes para representar e efetivar transações da Globalmeta junto a diversos órgãos públicos. Os endereços indicados na documentação como sedes da empresa abrigavam, na verdade, um apartamento e um laboratório. Na casa de um dos supostos sócios existia uma oficina mecânica. A reportagem também mostrou que Thormann havia viajado à Suíça com todas as despesas pagas por uma empresa que prestava serviços terceirizados em uma obra do Daer. À época, o então governador Tarso Genro decidiu exonerá-lo do cargo.
As investigações policiais se iniciaram em 2014 após alerta da Receita Federal sobre a possibilidade de os sócios da Globalmeta serem "laranjas" que ocultavam a atuação de Thormann, amparado para representar a empresa pela procuração.
A PF apura o recebimento de valores por parte do investigado entre 2008 e 2013. Embora haja análise a respeito da conduta no Daer, o foco principal está no período em que Thormann ocupou cargo de assistente da Diretoria de Infraestrutura Rodoviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Os indícios são de que empresas contratadas com dispensa de licitação pelo Dnit para prestar serviços de projetos rodoviários faziam, posteriormente, pagamentos em favor da Globalmeta. Os repasses, alguns deles mensais, foram efetivados a título de "consultorias", mas não houve comprovação da real prestação de serviços. A relação seria fictícia na tentativa de criar álibi que justificasse o repasse de dinheiro das empresas – contratadas mediante facilitações – para Thormann.
Leia mais
Ex-diretor do Daer teve viagem à Suíça paga por empresa subcontratada
Ex-diretor foi um dos pivôs de saída de Beto Albuquerque do governo Tarso
POLÍTICA
A indicação de José Francisco Thormann para a direção-geral do Daer em setembro de 2011 foi um dos motivos do racha entre PT e PSB durante o governo Tarso Genro. À época, o Daer era parte da Secretaria de Infraestrutura e Logística, uma pasta turbinada por ter no seu guarda-chuva mais estatais importantes como CEEE e EGR. O titular era Beto Albuquerque (PSB) e, naquele período, setores do PT não viam com bons olhos o fato de a secretaria mais forte do governo ter sido entregue a outro partido.
Quando o cargo ficou vago, Beto indicou um nome de sua confiança, mas o governador Tarso Genro optou pela nomeação Thormann, apadrinhado pelo PT, para a direção-geral do Daer. Um conflito se tornou explícito no setor de infraestrutura. Beto reclamava que Thormann não se subordinava a suas orientações. Como o então diretor do Daer estava fortalecido pelo apoio político do PT, o embate culminou com o pedido de exoneração de Beto – que passou a coordenar a bancada do seu partido na Câmara dos Deputados – em setembro de 2012. Foi o início da ruptura entre PT e PSB no Estado. Na despedida, Beto chegou a dizer que tinha "confiança zero" no diretor do Daer.
CONTRAPONTO
ZH ligou para os telefones de Thormann, mas não conseguiu localizá-lo até a publicação desta reportagem.