A série de depoimentos de executivos da Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cujos detalhes foram divulgados por Zero Hora em março, jogou luz sobre o submundo do financiamento de campanhas eleitorais no Brasil. Diante do ministro Herman Benjamin, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar demonstrou tanto conhecimento de conchavos e transações orquestrados ao arrepio da lei que se atreveu a sugerir mudanças no sistema eleitoral.
– Deixa eu dar uma sugestão, ministro. Deixa eu me meter um pouco na área que não é minha. Acho que se vocês conseguissem tirar do sistema eleitoral esses programas de TV, diminuiria, e muito, tanto na compra dos partidos, quanto no marketing para fazer esses programas. Acho que muito do caixa 2 vem desse sistema, que hoje em dia tenho minhas dúvidas se tem eficiência – afirmou, com desassombro, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar.
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Os depoimentos foram prestados a Benjamin no processo de cassação que o PSDB ajuizou no TSE contra a chapa Dilma-Temer. Na terça-feira, o TSE decidiu suspender o julgamento após conceder mais prazo para as defesas apresentarem suas alegações finais. Se condenados, Temer pode perder o mandato e Dilma ficar inelegível por oito anos.
Condenado a 19 anos na Lava-Jato e único dos delatores a voltar para a cadeia após o depoimento, Marcelo Odebrecht disse ao TSE que "inventou" a campanha de Dilma Rousseff em 2014. Durante a eleição, seu principal preposto, Alexandrino Alencar, para quem não havia porta fechada em Brasília, reunia-se todas as semanas com o tesoureiro da campanha petista, Edinho Silva.
Eram encontros clandestinos, em hotéis, comitês de campanha e na própria sede da Odebrecht, em São Paulo. Em 11 de junho, ele e Marcelo receberam Edinho em uma sala de reuniões contígua ao gabinete presidencial da empresa para acertar a compra do apoio de cinco partidos à chapa Dilma-Temer: PC do B, PRB, PROS, PDT e PP.
O executivo destinou R$ 25 milhões em troca do tempo de TV de pelo menos quatro destas legendas. O dinheiro assegurou à coligação a hegemonia na propaganda eleitoral, quase três vezes mais tempo do que Aécio Neves (PSDB-MG).
Cada partido tinha um codinome e um interlocutor para receber o dinheiro, pago em espécie:
– No PROS, senha Onça, o contato era o presidente Eurípedes Junior.
– No PRB, codinome Doutor, o presidente e atual ministro do Desenvolvimento, Marcos Pereira.
– No PC do B, o Vermelho, um dirigente de Goiás identificado apenas como Fábio.
– No PDT, as senhas eram nomes de jogadores do Fluminense, time do coração do tesoureiro Marcelo Panella.
Alexandrino narrou o pagamento de R$ 7 milhões a cada partido, com entregas em hotéis, escritórios e flats. O juiz quis saber se ele conhecia a fonte dos recursos.
– Era uma operação muito particular. Acho que eles não gostariam de contar, nem eu de saber. Melhor ficar na ignorância – esquivou-se o executivo.