O primeiro interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como réu em ação penal relacionada à Lava-Jato teve início por volta das 10h10min desta terça-feira, na sede da Justiça Federal de Brasília, e acabou cerca de 45 minutos depois. Durante o depoimento, Lula negou que tenha obstruído as investigações relacionadas à operação.
– O senhor sabe o que é levantar todo dia achando que a imprensa está na porta da minha casa porque eu vou ser preso? – desabafou o petista ao juiz federal Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal.
Segundo Lula, todos os dias são publicadas notícias de que ele será citado em novas delações premiadas, o que gera apreensão.
– Nos últimos anos tenho sido vítima quase de um massacre – lamentou.
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A audiência com o ex-presidente provocou mudanças no trânsito no entorno do prédio da Justiça Federal. Desde o início da manhã, a rua que dá acesso ao edifício está interditada para o tráfego de veículos.
Acusados de "atrapalhar" as investigações da Lava-Jato, também são réus da ação penal o pecuarista José Carlos Bumlai; o ex-senador Delcídio Amaral; o banqueiro André Santos Esteves; o ex-assessor de Delcídio, Diogo Ferreira Rodriguez; o advogado Edson Siqueira Ribeiro Filho, e o filho de Bumlai, Maurício. Os advogados dos réus e o representante do Ministério Público Federal, além do juiz Ricardo Leite, podem fazer perguntas para o ex-presidente.
Em acordo de delação premiada, Delcídio acusou Lula de participação na tentativa frustrada de impedir que Nestor Cerveró concluísse as tratativas com o Ministério Público para um acordo de delação premiada. Segundo o ex-senador, Lula foi o mandante de um esquema para tentar comprar o silêncio de Cerveró. Delcídio disse ter procurado Maurício Bumlai, filho do pecuarista José Carlos Bumlai, e obtido repasses em dinheiro vivo. Delcídio também ofereceu ao filho de Cerveró uma mesada de R$ 50 mil, que seria financiada pelo banqueiro André Esteves, do BTG Pactual.
O caso levou à prisão de Delcídio em novembro de 2015. Ele foi solto em fevereiro de 2016 após firmar acordo de delação premiada. A Justiça Federal do DF aceitou denúncia contra os envolvidos em julho do ano passado.
Lula já está em Brasília. Ele participa esta noite da abertura do 12º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (12º CNTTR), que vai até o próximo dia 17.
O interrogatório do petista estava marcado inicialmente para 17 de fevereiro. Após a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, mulher do petista, o juiz adiou o depoimento do ex-presidente para terça-feira.