Pressionado a se posicionar sobre a Lava-Jato após uma série de eventos que sugeriam a tentativa de blindar integrantes do governo citados durante a investigação, o presidente Michel Temer chamou uma coletiva na última segunda-feira para tratar do tema. Na ocasião, o Temer afirmou que apenas os auxiliares que forem alvo de denúncia serão afastados provisoriamente, e que a exoneração definitiva só será feita caso o ministro se torne réu.
O caso mais recente que motivou críticas foi a nomeação de Moreira Franco para a Secretaria-Geral que, com o cargo, ganhou foro privilegiado. Apelidado de Angorá na planilha da Odebrecht, o novo ministro foi citado mais de 30 vezes na delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da empreiteira.
Leia mais:
Saiba o que é uma denúncia e como a decisão de Temer pode proteger os ministros na Lava-Jato
Celso de Mello mantém Moreira Franco ministro da Secretaria-Geral
Confira na íntegra a delação premiada de ex-executivo da Odebrecht
Até o momento, sete ministros do governo já foram citados em delações premiadas. Saiba quem são eles:
Moreira Franco – ministro da Secretaria-Geral
Homem de confiança de Temer, Moreira Franco tomou posse no cargo no dia 3, quatro dias depois de a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, homologar as delações de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht na Operação Lava-Jato. Na delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, única divulgada até agora, Moreira Franco, identificado como Angorá, teria recebido R$ 3 milhões em propina. Ele também é citado em conversas entre Léo Pinheiro e Eduardo Cunha.
Mandados de segurança foram apresentados pela Rede Sustentabilidade e pelo PSOL, que questionavam a nomeação para o cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República. Na terça-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello indeferiu os pedidos e, com a decisão, o peemedebista se mantém no cargo e tem a prerrogativa de foro garantida.
José Serra – ministro de Relações Exteriores
A Odebrecht apontou à Lava-Jato que R$ 23 milhões foram repassados pela empreiteira via caixa dois para a campanha presidencial de José Serra na eleição de 2010. A empresa afirmou que o dinheiro foi transferido para uma conta na Suíça. Os executivos afirmaram que parte do dinheiro foi paga no Brasil e parte foi entregue por meio de depósitos em contas no exterior, segundo o jornal Folha de S.Paulo.
Eliseu Padilha – ministro da Casa Civil
Na delação de Melo Filho, Eliseu Padilha, apelidado de "Primo", aparece 45 vezes. Segundo o ex-executivo, o ministro teria participado de esquemas em que operalionalizava pagamentos da Odebrecht. De acordo com a delação, era Padilha quem centralizava o recebimento do dinheiro e também teria recebido, em benefício próprio, R$ 1 milhão.
Gilberto Kassab – ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações
Na delação do ex-presidente da Odebrecht Transport Paulo Cesena, Gilberto Kassab é citado por ter participado de esquema em que recebeu doações no valor de R$ 14 milhões em 2013 e 2014. Na delação de Claudio Melo Filho, Kassab é apresentado como Kafta. A revelação foi feita pelo jornal O Globo.
Leonardo Picciani – ministro do Esporte
A venda de vacas da empresa Agrobilara Comércio e Participações Ltda, que pertence à família do ministro dos Esportes do governo Michel Temer, Leonardo Picciani, teriam sido superfaturadas, segundo depoimento da matemática Tania Maria Silva Fontenelle, ligada à Carioca Engenharia. De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, Tania fez a afirmação em acordo de leniência com a força tarefa da Operação Lava-Jato.
A Carioca é a empreiteira que implodiu dois quadros importantes do PMDB, Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, e Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, ambos atualmente na prisão da Operação Lava-Jato.
Bruno Araújo – ministro de Cidades
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Bruno Araújo está na lista de pagamentos da Odebrecht. Mais de 200 políticos estão na planilha de pessoas que teriam recebido repasses da empreiteira. Ainda não é possível afirmar se os valores foram recebidos de foram legal ou ilegal.
Marcos Pereira - ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
Pereira teria negociado, na campanha eleitoral de 2014, a entrega de R$ 7 milhões do caixa 2 da Odebrecht para o PRB, conforme depoimento que faz parte das delações da empreiteira na Operação Lava-Jato. A verba teria sido repassada em dinheiro. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Infográfico: veja todas as fases da Lava-Jato: