Apontado como um dos favoritos para substituir Alexandre de Moraes no Ministério da Justiça, o advogado criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira já havia sido considerado para assumir a pasta ainda em abril de 2016, quando o então vice-presidente Michel Temer começava a formar o seu governo interino, antes do afastamento de Dilma Rousseff. Amigo pessoal do peemedebista, o nome de Mariz era dado como certo na ocasião, mas acabou descartado após o criminalista fazer críticas à condução da força-tarefa da Operação Lava-Jato e sugerir que a Polícia Federal deveria ter outras prioridades além do combate à corrupção.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, publicada em 27 de abril, Mariz afirmava que havia sido procurado por Michel Temer e falava já como ministro. "O que eu, ministro, posso fazer com a Lava-Jato? Ligar para (o juiz) Sergio Moro e dizer: 'Olha, não faça isso, não faça aquilo'? Ele me dá voz de prisão em flagrante", disse Mariz, que fez parte do grupo de advogados que assinou um manifesto que comparava a Lava-Jato a "uma espécie de Inquisição" e à ditadura militar.
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"Sou contra a delação nesses termos e, especialmente, a delação do preso. Quem está detido não tem vontade, a vontade é sair da cadeia. A lei fala efetividade e voluntariedade (do acusado)", afirmou Mariz à Folha.
O criminalista também sugeriu que a Polícia Federal – que é subordinada ao Ministério da Justiça – deveria ampliar sua atuação para além da corrupção: "A PF precisa ter outros focos paralelos à corrupção. O crime organizado está tomando conta do país e as polícias estaduais não dão conta".
As declarações de Mariz causaram embaraço a Michel Temer, que afirmou a assessores, no mesmo dia em que a entrevista foi publicada, que o criminalista estava "descartado" de sua futura equipe. Segundo assessores, Temer considerou muito "ruim" e "errática" a entrevista, ao entender que este tipo de declaração, naquele momento, dava "munição" àqueles que o acusavam de desejar parar a Lava-Jato. Com o "desconvite" a Mariz, o caminho ficou aberto para a nomeação de Alexandre de Moraes, que agora foi indicado por Temer para assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
De volta à disputa
As declarações polêmicas, no entanto, não parecem ter diminuído o prestígio de Mariz junto ao presidente da República. Temer avalia que ficou com uma dívida moral com o amigo de longa data, que já foi secretário de Segurança e Justiça em São Paulo. Porém, Mariz deve enfrentar forte concorrência. Na terça, Temer ouviu sugestões para convidar o ex-secretário de Segurança do Rio José Mariano Beltrame. O presidente também gosta do ex-ministro do Supremo Ayres Britto, mas no ano passado o magistrado não aceitou ser indicado para o ministério.
No Congresso, as bancadas do PMDB na Câmara e no Senado já avisaram ao presidente que não aceitarão um nome do PSDB na Justiça. Nos bastidores, os peemedebistas dizem que os tucanos estão muito bem contemplados com cinco ministérios e um nome indicado para o Supremo. Moraes era filiado ao PSDB, mas se desligou, na terça-feira, do partido.
– Será uma escolha pessoal. O ministro da Justiça é muito importante. Vamos escolher de forma pessoal – disse Temer, na terça-feira.
O PMDB e o PSDB – dois partidos com lideranças investigadas na Lava-Jato – disputam o comando da Justiça. Uma ala do PMDB da Câmara quer a nomeação de um integrante da bancada de Minas Gerais. Eleito sem o apoio do Planalto, o novo primeiro-vice-presidente da Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho (PMDB-MG), cobrou que Temer nomeie o deputado Rodrigo Pacheco.
– O PMDB de Minas não aceita mais ficar sem ministério. Minas quer participar do governo. Nós temos a segunda maior economia do Brasil, a segunda maior população. Fomos a bancada que demos mais votos para o impeachment (de Dilma Rousseff) – afirmou Ramalho.
O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), afirmou que a maioria da bancada não quer a Justiça e prefere ocupar a liderança do governo na Casa, hoje comandada por André Moura (SE), do nanico PSC, ou ter um ministério com capilaridade, em que possa fazer ações para atender às bases eleitorais.
Ainda na terça, Temer se reuniu com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Congresso, e com o secretário de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), para tentar resolver o impasse. Depois, Jucá conversou com lideranças tucanas no Senado.
O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, disse aguardar uma "indicação à altura dos desafios".
– Vamos aguardar que o presidente possa fazer uma indicação à altura dos enormes desafios da área, em especial no que diz respeito ao enfrentamento da crise de segurança que assola partes do Brasil – afirmou.
O PMDB da Câmara perdeu, com a queda de Geddel Vieira Lima da Secretaria do Governo, assento no núcleo duro do governo. Por outro lado, o PSDB está à frente da Secretaria de Governo, com Imbassahy, dos Ministérios das Cidades, com Bruno Araújo, das Relações Exteriores, com José Serra, e Direitos Humanos, com Luislinda Valois. O PMDB tem, agora, duas pastas a mais.
Os próprios tucanos, porém, têm tido dificuldades de fechar um nome de consenso. Os senadores pelo partido de Antonio Anastasia (MG) e Aloysio Nunes Ferreira (SP) já informaram aos colegas da bancada que não gostariam de assumir o cargo.
* Zero Hora, com agências