Renan Calheiros (PMDB-AL) não quer abrir mão do poder. Nas últimas semanas de um reinado de quatro anos como presidente do Senado, que se encerra em 1º de fevereiro, o peemedebista articula para garantir nova posição de influência na República. Se depender da sua vontade, será ministro do governo Michel Temer, mas o caminho considerado provável nos bastidores é assumir a liderança do PMDB no Senado e garantir o controle da comissão mais importante do Casa, a de Constituição e Justiça (CCJ).
O parlamentar já sinalizou ao presidente Michel Temer o desejo de voltar ao Ministério da Justiça, pasta que comandou no governo Fernando Henrique. O problema, na avaliação do Palácio do Planalto, reside na necessidade de desalojar o tucano Alexandre de Moraes e na repercussão de tal escolha. Subordinada ao ministério, a Polícia Federal responderia a um político investigado e denunciado na Operação Lava-Jato, que também é réu por peculato no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de beneficiar uma empreiteira em troca do pagamento de seus gastos pessoais.
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O currículo do senador pesa na hora de negociar uma cadeira na Esplanada, inclusive para vagas de menor viço, a exemplo do Turismo, que está na cota do alagoano. Depois de demissões de ministros na esteira da Lava-Jato ou de deslizes éticos, Temer quer evitar novo escândalo. Ciente, Renan dá de ombros. A pressão que exerce passa pela perda da blindagem e de benesses vinculadas à presidência do Senado. Os voos da FAB, rotineiros desde o retorno do alagoano ao cargo em 2013, ficarão no passado. A fim de driblar protestos, ele quer evitar áreas de embarque e desembarque de aeroportos.
– Renan vai pegar voo de carreira? Vai de Gol para Maceió? Correndo o risco de levar tomate em aeroporto? Como ministro, seguiria voando de FAB – explica um antigo aliado do senador.
Comissão é chave para projetos e sabatinas
Apesar da dificuldade de ganhar espaço no primeiro escalão de Temer, Renan seguirá aliado ao Planalto, posição mantida desde os tempos em que foi líder de Fernando Collor na Câmara. O peemedebista tem definido o plano para manter a influência no Congresso, necessária para enfrentar o avanço da Lava-Jato. Entre seus interlocutores, existe o receio de que novos pedidos de afastamento do mandato sejam endereçados ao STF.
A sucessão no Senado também está no radar de Renan. O parlamentar trabalha para garantir a presidência a Eunício Oliveira (PMDB-CE), atual líder do PMDB e seu aliado. Com Romero Jucá (PMDB-RR), eles seguirão atuando em harmonia. Caso Eunício seja eleito em fevereiro, Renan pode herdar a liderança do PMDB, com Jucá mantido como líder do governo no Congresso.
No comando da maior bancada da Casa, Renan responderia pela indicação dos colegas às comissões. Nesta divisão do poder, ele também é cotado para ficar com a presidência da CCJ, parada obrigatória dos principais projetos em tramitação. A reforma da Previdência, se for aprovada pela Câmara, passará pelo colegiado. Defendida pelo próprio Renan, a proposta dos crimes de abuso de autoridade de magistrados e procuradores está na CCJ.
Senhor da pauta da comissão, o peemedebista manteria trânsito entre as bancadas e poder de barganha com o Planalto. Ainda ficaria garantido o canal de diálogo com o Judiciário, decisivo no julgamento do STF que reverteu seu afastamento da presidência do Senado. É na CCJ que ocorrem as sabatinas dos escolhidos para o Supremo e para o cargo de procurador-geral da República. Em setembro, ao fim do mandato de Rodrigo Janot, o Planalto terá de indicá-lo uma terceira vez ou escolher um novo dirigente da Procuradoria-Geral. O futuro da Lava-Jato estará ligado a essa aprovação.
Caso não consiga ou prefira ficar de fora da CCJ, Renan articula garantir a presidência da comissão para um escudeiro. Outro posto que terá um nome de confiança é o comando do Conselho de Ética, onde são apreciadas as cassações de mandato. A escolha terá o aval de Renan, Eunício e Jucá.
Décadas no poder
Nascido em 1955, Renan Calheiros militou na esquerda e faz carreira no PMDB. Deputado estadual em 1978, foi duas vezes deputado federal, participando da Assembleia Constituinte.
Foi líder do governo Fernando Collor na Câmara, ministro de Fernando Henrique e aliado dos presidentes Lula, Dilma e Temer.
Em 1994, foi eleito senador pela primeira vez. Foi reeleito em 2002 e, em 2005, chegou à presidência do Senado.
Reeleito presidente do Senado em 2007, renunciou ao final do mesmo ano para evitar sua cassação. A suspeita de ter despesas de uma filha paga pela Mendes Júnior só lhe tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) em 2016.
Em 2010, Renan superou o desgaste do escândalo e ganhou nas urnas o terceiro mandato de senador. Em 2013, auxiliado por José Sarney, voltou à presidência da Casa. Foi reeleito presidente em 2015.
Citado na Lava-Jato, desde 2015 enfrenta o desgaste da operação. É alvo de inquéritos, foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro e está na lista da Odebrecht. Teve pedido de prisão negado pelo STF. A Corte reverteu liminar que lhe afastou da presidência do Senado.
Com o fim do mandato de presidente em fevereiro, apoia a vitória de Eunício Oliveira. Renan gostaria de ser ministro, mas avalia assumir a liderança do PMDB do Senado e a CCJ.