Dois dias depois da queda da aeronave que resultou na morte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki e de outras quatro pessoas, Força Aérea Brasileira (FAB), Polícia Federal (PF) e Ministério Público (MP) investigam paralelamente as possíveis causas da tragédia. Enquanto a Aeronáutica tem como objetivo produzir laudo para prevenir possíveis acidentes futuros, a PF e o MP buscam eventuais responsáveis.
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Até sexta-feira, a equipe formada por sete militares do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica, estava em fase inicial de coleta de dados no local da queda. O trabalho consiste em analisar os destroços, buscar indícios de falhas, levantar hipóteses sobre a performance da aeronave nos momentos finais do voo, fotografar detalhes e retirar partes do avião para perícia. No início da tarde de sexta, o aparelho de gravação de voz do jato foi encontrado e será encaminhado para a sede do órgão, em Brasília, para ser periciado – algo que, de acordo com um dos maiores estudiosos de acidentes aéreos do Brasil, pode ser infrutífero:
– A primeira coisa que se faz depois de um acidente como esse é analisar a caixa preta. Esse avião tinha só um gravador de voz, algo que significa muito pouco, porque o aeroporto de Paraty não tem torre de controle, então o piloto não tinha como fazer contato. Não faz sentido ligar para centros de controle de São Paulo ou de Brasília para avisar que está com problemas. E ele não tinha copiloto, estava sozinho na cabine – avalia Ivan Sant'Anna, autor de livros como Caixa-Preta, Perda Total e Plano de Ataque.
Análise dos destroços deve fornecer as melhores pistas
Sant'Anna avalia que a principal prova a ser analisada é o próprio avião. De que forma caiu, que parte bateu primeiro na água, em que posição estão as hélices, qual era a velocidade quando houve a queda e quais deformações sofreu a carcaça. São as respostas para essas questões que devem levar à causa – em uma investigação que, para o especialista, deve ser rápida e pode aprontar laudo preliminar em até dois meses.
Entre as possíveis causas da queda, ganham força hipóteses relacionadas à meteorologia e visibilidade – chovia na hora do incidente, não havia ajuda de radar ou controlador de voo, e o local é relativamente conhecido por ocorrências de acidentes aéreos. De outro lado, diminui a probabilidade de causas como pane seca – há relatos de vazamento intenso de querosene na água.
Na internet, teorias da conspiração foram constantes desde o anúncio da morte do ministro. A próxima fase da investigação da FAB deve envolver análise dos dados e levará em conta fatores materiais (sistemas da aeronave e projeto, por exemplo), humanos (aspectos médicos e psicológicos) ou operacionais (rota, meteorologia, etc). Ao longo dos trabalhos, outros profissionais – pilotos, engenheiros, médicos, psicólogos e mecânicos – poderão se integrar à comissão.
Em paralelo, o Ministério Público Federal (MPF) em Angra dos Reis, por meio da procuradora da República Cristina Nascimento de Melo, solicitou à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e ao comando da Aeronáutica o áudio registrado pelo gravador de voz do avião, além de documentos relativos à manutenção da aeronave. A Anac informou ainda na quinta-feira que o jato não tinha pendências e apresentava certificados de inspeção em dia.
A PF afirmou em nota que "não fornece informações sobre investigações em andamento, especialmente quando estão sob sigilo".