O acordo de delação premiada da empreiteira Odebrecht preocupa o presidente Michel Temer, que já enfrenta uma crise com a denúncia envolvendo o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, um de seus homens de confiança. O receio é de que as acusações provoquem um clima de instabilidade política, prejudicial à recuperação da economia.
Auxiliares de Temer afirmam não ter dúvidas de que as delações, no âmbito da Lava-Jato, vão atingir não somente Geddel, como outros ministros importantes. Na lista estariam o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco. Geddel, Padilha e Moreira integram o "núcleo duro" do Palácio do Planalto.
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Apesar de ter dado apoio a Geddel, Temer está sendo aconselhado a dispensá-lo. Até agora, ele avalia que uma mudança na equipe pode prejudicar a votação da proposta de emenda constitucional (PEC) que limita os gastos públicos, em tramitação no Senado. Temer corre contra o tempo para aprovar a PEC porque só depois desta etapa enviará ao Congresso as reformas da Previdência e da legislação trabalhista.
No cenário idealizado pelo presidente, a reforma ministerial deve ocorrer apenas depois da eleição para as presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2017. A delação de Marcelo Odebrecht e de executivos da empreiteira, porém, podem atrapalhar os planos de Temer, tornar a situação de Geddel insustentável e até apressar algumas trocas.
Na última quarta-feira, por exemplo, Roberto Freire foi empossado no cargo de ministro da Cultura, substituindo Marcelo Calero, que acusou Geddel de pressioná-lo para liberar a construção de um prédio, em Salvador. O chefe da Secretaria de Governo é dono de um apartamento nesse projeto imobiliário.
O Planalto está apreensivo, ainda, com o fato de a delação poder alvejar o líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), e muitos parlamentares da base aliada. Há também a percepção de que a Lava Jato tem potencial para ressuscitar manifestações de "Fora, Temer" e tornar inviável o ajuste fiscal.