Após oito meses de tratativas, os acordos de delação premiada de Marcelo Odebrecht e de pelo menos 50 executivos e funcionários da empreiteira foram fechados entre os investigados pela Lava-Jato e o Ministério Público Federal (MPF). Segundo as informações reveladas por uma fonte ao jornal O Globo, outros acordos ainda aguardam a definição de detalhes para serem concluídos.
De acordo com a publicação, as referências adiantadas pelo ex-presidente da Odebrecht estão abaixo do esperado pelos procuradores da Operação Lava-Jato. Entretanto, conforme interlocutores, as acusações do empreiteiro devem alcançar lideranças de todos os principais partidos do governo e da oposição.
– Não vai ser o fim do mundo, mas são informações suficientes para colocar o sistema político em xeque – afirmou, para O Globo, um dos responsáveis pelos acordos de delação.
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O MPF já destacou 10 investigadores para interrogar os novos delatores. Eles deverão ser colocados em uma "fila" e ouvidos de acordo com a relevância das informações prestadas por cada investigado em relação ao esquema de propinas pagas pela Odebrecht em troca de obras da administração pública.
De acordo com o jornal, os colaboradores serão interrogados em Curitiba, Brasília, São Paulo e Salvador. Os detalhes repassados pelos delatores serão complementados pelos dados do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, responsável pelo pagamento de propinas e negociação com operadores.
Mais de 230 políticos delatados
Conforme informações reveladas no início deste mês por Zero Hora, dirigentes da Odebrecht já apontaram mais de 230 políticos como beneficiários diretos de desvios de dinheiro público – em alguns casos, para usufruto próprio e, em outros, para pagamento de caixa 2. Os dados foram repassados durante conversas gravadas desde fevereiro, mas que ainda não têm valor como prova.
Na lista de nomes previamente delatados pelos executivos da empreiteira, estão deputados federais, senadores, ex-ministros, ministros, governadores e ex-governadores. No entanto, não se pode confundir esta lista com a que surgiu em fevereiro, quando uma planilha com o nome de pelo menos 200 políticos que receberam doações da empreiteira foi apreendida. Ao contrário desta relação anterior, as informações prestadas pelos delatores incluem apenas doações ilegais da Odebrecht.
– Estão nesse grupo políticos de todos os partidos importantes, da situação e da oposição. Do PMDB, PT, PP e PSDB, a maioria. Do governo federal que sofreu impeachment, dos que o antecederam e do atual – resume um dos investigadores a Zero Hora.
A lista de políticos envolvidos no esquema de pagamento de propinas pela Odebrecht é variada porque a empreiteira mantém contratos com a administração pública dos três poderes em praticamente todos os Estados do país. Em 2015, a empresa faturou mais de R$ 130 bilhões com negócios no Brasil e no Exterior.
Além disso, o esforço dos investigadores da Operação Lava-Jato é maior sobre governos recentes porque, com relação a desvios de dinheiro ocorridos décadas atrás, é enorme a chance de os crimes terem prescrito. Mesmo assim, podem ser investigados, ressalta um dos envolvidos na operação.