Cientistas políticos avaliam que as novas regras para campanhas a partir deste ano favoreceram os candidatos ricos, apoiados pelas máquinas públicas, aqueles que têm mais tempo de TV ou que possuem recall – ou seja, que já disputaram outras eleições. Para eles, esse cenário não contribui para a renovação política e torna o processo eleitoral menos transparente.
– Em São Paulo são três candidatos com recall: a Marta (Suplicy, do PMDB), o (Celso) Russomanno (PRB) e o prefeito (Fernando Haddad, do PT). Se você olhar para Rio, Belo Horizonte e mesmo em Curitiba, vai perceber que o recall e o tempo de TV também são fundamentais – afirma o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
Melo ressalta que a grande diferença da campanha deste ano para as outras são as ruas.
– Os semáforos cheios de pessoas agitando bandeiras têm sido pouco vistos no Brasil. Você também não vê mais distribuição de recursos, como camisetas e bonés – diz o professor, para quem o cenário é uma demonstração de falta de dinheiro, o que não significa que as campanhas arrecadaram menos.
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Na avaliação de Melo, o fim da doação empresarial para campanhas abre espaço para o caixa 2. Ele diz que candidatos podem estar usando o caixa 2 para investir em pesquisas e analistas, cujo trabalho é mais difícil de ser fiscalizado.
– O caixa 2 não vai ser na campanha de rua. Se tiver, vai ser em atividades-meio muito importantes dentro de uma estratégia eleitoral.
O cientista político Humberto Dantas acrescenta que as máquinas públicas dos governos estaduais e municipais também ganharam mais peso neste ano.
– Governos bem avaliados se reforçam em todas as suas próprias capacidades. O que não é problema, porque governos bons continuam – diz Dantas, que é professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP).
Dantas pondera que o fim do financiamento empresarial não contribuiu para equilibrar a disputa eleitoral.
– As empresas saíram, poucos empresários têm coragem de doar. Mas os que doaram fizeram doações significativas e tornaram o jogo bastante desigual – afirma.
Segundo ele, a doação de grandes montantes para poucos candidatos desequilibra a competição. Dantas destaca que outros fatores comprometem a renovação, como o encurtamento da campanha – de 90 para 45 dias – e as restrições de propaganda.
– Saiu financiamento empresarial, diminuiu o tempo de campanha e restringiu propaganda. Isso mata qualquer renovação.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.