O presidente Michel Temer reavalia sua política de comunicação e analisa formas de compensar os tropeços do início da gestão, marcada por declarações polêmicas de ministros e anúncios de reformas trabalhistas e previdenciárias que tiveram repercussão negativa nas redes sociais. O debate interno no Palácio do Planalto coincide com a abertura, nos próximos dias, de licitação para contratar as agências que farão as campanhas publicitárias do governo.
No dia 20, a Secretaria de Comunicação realiza a primeira audiência pública para apresentar o edital de licitação de publicidade, com orçamento previsto de cerca de R$ 150 milhões por ano. Atualmente, o governo realiza suas campanhas por meio das agências Leo Burnett Tailor Made, Propeg e Nova/SB, contratadas ainda em 2012 pelo governo Dilma Rousseff.
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Ao assumir o poder, em maio, Temer teve de resolver uma crise provocada por aliados que disputavam o comando da Secretaria de Comunicação. Ele decidiu que o antigo assessor, o jornalista Márcio de Freitas, ocuparia o órgão. De lá para cá, Freitas estabilizou a área.
Uma reviravolta na comunicação, porém, vai além da secretaria, avaliam interlocutores do governo. Isso porque, segundo eles, a maioria dos erros seguiu uma estratégia do núcleo político do Palácio do Planalto, que aposta em "balões de ensaios" - testes públicos para avaliar a reação a medidas duras.
No mês passado, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, anunciou a proposta de um sistema de Previdência único, de civis e militares. A caserna reagiu e o governo, então, acabou abandonando a ideia.
Na quinta, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, defendeu o aumento da jornada de trabalho de 8 para 12 horas. No mesmo dia, Temer telefonou cobrando explicações. O ministro disse, em nova entrevista, que havia sido mal interpretado, mas manteve a essência do que declarou.
Redes
Preocupado com a repercussão negativa, o governo lançou campanha nas redes sociais para negar a perda de direitos trabalhistas. "Ministério do Trabalho garante que a atualização da legislação trabalhista manterá todos os direitos dos trabalhadores brasileiros. Portanto, #FGTS, 13.º salário, fatiamento das férias e jornada semanal seguirão em vigor. A medida não prevê o aumento da jornada de trabalho", diz mensagem no perfil de Temer no Facebook. Um vídeo também foi publicado.
Nogueira já tinha sido pivô de outro desgaste. Ele anunciou, em agosto, que o Planalto enviaria ao Congresso nova proposta de trabalho terceirizado. O projeto era mais restrito que um outro já aprovado pela Câmara. A reação negativa, no caso, partiu do empresariado.
'Media training'
No Planalto se discutem até questões básicas de comunicação, como "media training" para ministros que estão na vida pública há anos, um curso rápido para falar a jornalistas. É o caso de Ricardo Barros, da Saúde, que, entre outras frases de efeito negativo, declarou que homens trabalham mais que as mulheres e, por isso, não procuram com tanta frequência serviços de saúde.
Nos bastidores, auxiliares de Temer citam até um episódio envolvendo o presidente, que, no dia 3, na China, se deixou fotografar numa loja de sapatos, onde comprou um par por R$ 388. Com a indústria brasileira em guerra contra os fabricantes chineses, Temer foi criticado. A Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados) mandou um par de sapatos de graça para o presidente.
Na sequência, Temer minimizou protestos contra o governo. No dia seguinte à declaração, estavam previstos atos pelo País. A reação contrária que mais o incomodou aconteceu no Maracanã. Durante a abertura da Paralimpíada, ele foi vaiado pelo público. A interlocutores, Temer lembrou que tinha liberado R$ 130 milhões para garantir a realização do evento, um dinheiro que não estava previsto.