O advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins, pediu na terça-feira, a ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) que a Corte também faça auditoria sobre documentos e presentes recebidos por outros mandatários, que exerceram seus cargos antes do petista e de sua aliada, Dilma Rousseff.
Zanin percorreu gabinetes do Tribunal, argumentando que também cabe fiscalização sobre os objetos levados do Planalto por Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco e Fernando Collor de Mello. Num grampo da Operação Lava-Jato, Lula chamou os bens destinados ao petista de "tralhas".
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Após uma inspeção no Planalto, o TCU apontou falhas no processo para classificar objetos que deveriam compor o acervo privado dos ex-presidentes e aqueles que deveriam ser incorporados ao patrimônio da Presidência da República. O trabalho, no entanto, compreendeu somente o período entre 2003 e 2016, que corresponde justamente aos mandatos exercidos por Lula e Dilma.
Diante da constatação, o TCU determinou que o Planalto identifique e incorpore ao seu acervo os objetos eventualmente recebidos indevidamente pelos dois ex-presidentes. O "pente-fino" será feito em 568 bens destinados a Lula e 144 reservados para Dilma. Eles estão, por ora, proibidos de doar ou vender qualquer peça.
Nesta terça-feira, Zanin reclamou da suposta seletividade do tribunal. Ouviu como explicação que a auditoria foi motivada por uma solicitação do Congresso, na qual já constava o período a ser observado. O pedido partiu do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), ferrenho opositor do PT. O advogado foi informado de que, caso outro integrante Legislativo requeira a análise dos bens recebidos por outros ex-presidentes, o tribunal o fará.
Zanin não quis revelar o propósito da visita ao TCU. Explicou apenas que tem outros clientes e que, não necessariamente, estava ali a serviço de Lula. As reuniões ocorreram no mesmo momento em que procuradores da Lava-Jato percorriam gabinetes de ministros da Corte para tratar de cooperação. Conforme relatos ouvidos pela reportagem, o advogado de Lula manifestou preocupação com o uso das informações da auditoria pela força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.
Neste mês, os investigadores da operação, com base em relatório do Tribunal, requereram ao juiz federal Sérgio Moro que intime a Secretaria de Administração da Presidência da República para que promova uma avaliação de bens apreendidos em poder do ex-presidente em março. A Polícia Federal descobriu um cofre no Banco do Brasil em São Paulo, no qual Lula guardava parte dos bens levados do Planalto.
"Pelos processos atuais, não há como garantir que os acervos presumidamente privados de 568 bens, pertencente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o acervo de 144 bens, registrado como de propriedade da presidente Dilma Vanna Rousseff, tenham sido corretamente classificados", assinalam os procuradores da força-tarefa, mencionando os dados da auditoria.