Para acelerar a sessão de julgamento da presidente afastada Dilma Rousseff, retomada pouco depois das 14h30min após intervalo de uma hora para o almoço, a advogada de acusação Janaína Paschoal abriu mão do tempo de uma hora para fazer a réplica às argumentações apresentadas pelo colega da defesa, José Eduardo Cardozo. Com isto, fica também prejudicado o mesmo tempo destinado ao advogado da petista para a tréplica.
Os senadores começaram, então, a fazer seus pronunciamentos. Até a retomada dos trabalhos, 66 dos 81 parlamentares estavam inscritos para o tempo de fala de 10 minutos cada, o que deve tomar mais de dez horas de sessão. O primeiro senador a discursar foi Gladson Cameli (PP-AC).
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No total, a previsão é que a sessão se estenda por mais 15 horas. Se os trabalhos avançarem pela madrugada sem que haja acordo para enxugar a lista, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que comanda o julgamento, deve suspender a sessão para que os encaminhamentos finais e a votação que pode afastar definitivamente Dilma do comando do Executivo sejam retomados na quarta-feira.
Janaína foi a primeira a se manifestar na sessão que começou por volta das 10h30min. Por uma hora e meia, ela defendeu as teses da acusação de fraude eleitoral e assegurou que houve crime de responsabilidade pela edição de decretos suplementares sem autorização do Congresso e que o governo Dilma praticou as chamadas pedaladas fiscais. Apesar do tom duro na sua exposição, a advogada se emocionou no final e chegou a pedir desculpas pelo "sofrimento" causado à petista.
A fala da advogada causou indignação do advogado de Dilma. José Eduardo Cardozo, que, além de tentar derrubar os argumentos da acusação afirmando que Dilma é uma pessoa honesta e está sendo afastada por pretextos e por ser "uma mulher que incomoda", afirmou que não é justa a menção feita por Janaína aos netos da petista como justificativa para ter assinado o pedido que culminou no processo de afastamento.
Ao concluir sua manifestação na parte da manhã, Cardozo se emocionou ao lembrar da Lei de Anistia:
– Por essa lei, quando se faz um julgamento dizendo que alguém foi injustiçado pelo Estado brasileiro, o ministro da Justiça, diante de seus familiares, pede desculpa ao povo brasileiro pelo sofrimento que aquela pessoa sofreu. O que mais me doía era quando precisava pedir desculpas quando a pessoa já havia morrido.
Em tom emotivo o advogado acrescentou:
– Peço a Deus que, se Dilma for condenada, um novo ministro da Justiça tenha dignidade de se desculpar a ela. Se ela estiver viva, que se faça de corpo presente. Se ela estiver morta, que faça a seus filhos e netos. Peço, por favor, que julguem pela justiça, julguem pela democracia, julguem pelo Estado de Direito.