Pelo tamanho modesto e por ter as contas em dia, a Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul (Sulgás) não representa uma dor de cabeça ao Piratini, mas desponta como primeiro alvo de uma possível venda ou repasse à União – interessada na companhia.
Em Brasília é estudada por técnicos do Ministério de Minas e Energia uma revisão na Lei do Gás, promulgada em 2009, pelo então presidente Lula, e considerada "estatizante" por empresários do setor. Entre as principais críticas, o privilégio à atuação da Petrobras no segmento e a dificuldade de entrada de novos agentes no mercado.
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Com mudanças na legislação no horizonte, interessados na compra da Sulgás não faltariam, garantem especialistas. Apesar de a empresa ser sadia financeiramente (ano passado teve lucro de R$ 68 milhões), o valor arrecadado com uma possível venda não seria tão expressivo quando comparado à CEEE. No mercado brasileiro, a estatal gaúcha é considerada uma empresa "pequena e regional."
– O negócio atrai já de cara empresas de capital americano, canadense e também chinês – afirma Marco Teixeira, fundador da Gás Energy, consultoria que assessora empresas e instituições com interesses na cadeia de gás natural brasileiro.
O valor de mercado da Sulgás é incerto e dependeria de vários fatores, como momento da oferta e a realização de mudanças na regulação, que garantiriam mais segurança jurídica a investidores. No cenário mais otimista, poderia chegar a cinco vezes o ebitda da empresa (quanto a companhia gera de recursos apenas com suas atividades operacionais), hoje em R$ 100 milhões e em uma perspectiva mais pessimista, uma vez este valor.
Metade da quantia iria para os cofres do Estado, já que o governo gaúcho é dono de 51% da companhia. Os outros 49% pertencem a Petrobras.
Os mais interessados em comprar a estatal gaúcha, afirma João Luiz Zuñeda, diretor da consultoria especializada MaxiQuim, seriam empresas multinacionais que já têm participação em outras companhias regionais de gás na Região Sudeste do Brasil:
–Para uma empresa de grande porte, a aquisição da Sulgás só faz sentido se pensar em uma integração com gasoduto nacional e ganho em escala. A oferta do controle do negócio seria um atrativo extra para investidores interessados na estatal.
Ano passado, a Petrobras, sócio minoritário, chegou a demonstrar interesse na venda de sua parte, mas a perspectiva de formar sociedade com ente público em grande dificuldade financeira teria afugentado empresários. Desde 2015, a Petrobras vem se desfazendo de ativos na área de gás em uma estratégia adotada para reforçar o caixa e reduzir o endividamento. Há 20 dias, confirmou processo de venda da Liquigás, subsidiária que opera no mercado de gás de botijão.
Modificações na legislação dependerão de votação no Congresso e devem ser colocadas em pauta apenas depois de agosto, passada a votação do impeachment do Senado, mas a disposição do governo federal já anima investidores.
A entrada de Paulo Pedrosa na secretaria-executiva do Ministério de Minas e Energia, em maio, e de Luiz Barroso na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em junho, seria uma sinalização da integração maior entre setor público e iniciativa privada.
– O Rio Grande do Sul tem uma área interessante a ser explorada quanto à expansão da tubulação, por exemplo. As regiões sul e noroeste têm bons potenciais _ diz um executivo da Gas Natural Fenosa, espanhola que atua em mais de 25 países e no Brasil abastece os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
RAIO-X
*Criada em 1993, iniciou comercialização do gás natural em 2000
*Atende 28,7 mil consumidores no Rio Grande do Sul
*Atua em 38 municípios, em uma rede de distribuição de 975,7 km situados na Região Metropolitana e na Serra
*Principais acionistas: Estado do RS (51%) e Petrobras (49%)
*Total de ativos*: R$ 314,6 milhões
*Patrimônio Líquido*: R$ 134 milhões