Após chamar a atenção pelo discurso inflamado e por ter dado o voto considerado definitivo a favor do parecer que pede a cassação do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na última terça-feira, a deputada Tia Eron (PRB-BA) afirmou que o aspecto que mais pesou para a sua decisão foram as "provas contundentes". Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, na manhã de quarta-feira, a baiana reconheceu ainda que não foi pressionada por seu partido para decidir o voto:
– Eu tive a paz a tranquilidade e liberdade para fazer o devido julgamento. O que eu estava querendo era ler o relatório. Quando você junta uma das provas, que é uma conta sem movimentação, com um contrato irrevogável e compras nos cartões de crédito, você vê o desenho claro de que houve quebra de decoro parlamentar.
Leia mais:
Tia Eron: "Não mandam nessa nega"
Saiba as próximas etapas do processo de cassação de Cunha
Zavascki dá cinco dias para Cunha se manifestar sobre pedido de prisão
"É matéria do Judiciário e do Legislativo", diz Temer sobre Cunha
Durante seu discurso na sessão do Conselho de Ética, Tia Eron rebateu críticas dos deputados sobre a ausência dela na última reunião da comissão e chamou a atenção dos parlamentares ao dizer que "não mandam nessa 'nega' aqui". Sobre esta fala, a baiana justificou que se referia à necessidade de estar livre de qualquer tendência, influência ou conselho para elaborar seu voto.
– No primeiro dia que cheguei no Conselho de Ética já estava apelidada de "aliada". A minha consciência é maior do que qualquer recomendação ou políticas pontuais. Não vou fazer um julgamento baseado em interesses – afirmou.
Ainda durante a entrevista, Tia Eron elogiou o comportamento do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que sentou ao seu lado na sessão e comemorou efusivamente o voto da baiana:
– Eu parecia uma leprosa durante a sessão, ninguém chegava perto de mim. Por isso, destaco o comportamento do deputado, pela forma como nos propomos a tratar os colegas.
O relatório votado na tarde de ontem é de autoria do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) e foi aprovado por 11 votos a nove, em uma sessão que durou quase três horas. A fase seguinte do processo será a votação em plenário, onde são necessários 257 dos 512 votos para que Cunha seja cassado.
O presidente afastado da Casa é acusado de mentir na CPI da Petrobras, ao negar ser o dono de contas não declaradas no Exterior. O processo contra Cunha tramita há cerca de oito meses, sendo o mais longo da história do Conselho de Ética.