Nem presidente, nem Temer, muito menos pedaladas fiscais. Desde o início da sessão de votação no Senado Federal sobre o processo de impeachment de Dilma Rousseff, o que predominou nas redes sociais foram termos que acirram a radicalização política do país e nomes que insistem em colocar como protagonistas personagens que, neste momento, deveriam ocupar o papel de meros coadjuvantes.
Análises realizadas por diferentes pesquisadores de mídias sociais mostraram que, entre a manhã de quarta-feira a quinta, palavras e expressões como "golpe", "tchauquerida", "Bolsonaro" e até "Collor" estiveram entre as mais citadas pelos internatutas. Já Temer, mesmo sendo eleito presidente interino, não conseguiu atrair o foco do universo virtual.
– A polarização e os ânimos acirrados, que culminam em discursos mais extremistas, é algo que já se tem observado nas redes ao longo de todo esse processo. Vimos uma amenização disso durante a votação na Câmara, quando as postagens ficaram mais focadas na indignação sobre a qualidade dos discursos dos deputados. Agora, com a votação do Senado, a polarização reaparece com força – explica o professor Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo.
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Conforme análise realizada pelo Labic, que verificou que, entre os termos predominantes relacionados à palavra impeachment no Twitter das 0h de quarta-feira às 13h de quinta-feira, Collor – presidente que sofreu impeachment em 1992 e agora senador da república – foi o nome de governante mais citado depois de Dilma:
– Foi muito interessante e surpreendente a popularidade de Collor, que permaneceu nos Trending Topics do Twitter por muito tempo. Dar essa reputação a ele é curioso, pois mostra que ele foi valorizando como um ator político, principalmente para reforçar a justificativa do impeachment, no sentido de "até ele vota a favor" – observa Malini.
Temer fora do foco
No estudo realizado pelo Labic, o atual presidente interino ocupou apenas a 14ª posição, sendo menos citado que termos como "senadores", "Teori" e "votação". Para Malini, a "impopularidade" de Temer no universo virtual pode ser justificada pelo fato de que a rede pró-impeachment está silenciosa em relação ao atual líder pelo descrédito e desconfiança no novo governo:
– Temer é citado muito mais pelas críticas dos que são contra o impeachment do que aqueles que defendem o afastamento de Dilma. Isso nos mostra que, assim como a dificuldade que o presidente interino tem de conquistar defensores no mundo real, também encontra no virtual. Temer terá grandes problemas na internet durante seu governo.
O mesmo pode ser observado em outro estudo, realizado pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-DAPP). Uma análise sobre a quantidade de postagens com os nomes Dilma e Temer ao longo da quinta-feira mostrou que a presidente afastada foi até duas vezes mais citada que o atual governante, mesmo após a decisão da votação.
– Nas redes, Temer foi uma conversa paralela. O centro das atenções continua sendo a Dilma, sendo que ele aparece mais dentro de citações da própria presidente afastada, e não tanto por menções referentes somente a ele _ explica Pedro Lenhard, pesquisador da FGV-DAPP.
Deputado Bolsonaro em evidência na TV Senado
Outro personagem que, apesar de não ter participado desta etapa do processo de impeachment, ganhou os holofotes virtuais foi Jair Bolsonaro. Em um estudo que está sendo desenvolvido por pesquisadores da UFRGS – e que identificou os termos mais presentes nos comentários postados no canal da TV Senado no YouTube durante a transmissão ao vivo da sessão de votação – a palavra que mais apareceu foi a do polêmico deputado do Partido Progressista (PP), com 252 citações, seguido de "fora", 215, e "presidentes", 161. "Dilma" foi o quinto termo, com 129 citações.
– Outros termos como "presidentes", "fora", "buááá", "Brasil", "tchau", "gópi" e "2018" parecem demonstrar a polorização radical de discursos, entre defensores e críticos de Dilma, sendo que muitos do segundo grupo enxergam na assunção de uma direita mais conservadora a solução para o desgate político – explica o pesquisador Francisco Amorim.
Curiosamente, destaca Amorim, o termo "pedaladas fiscais" e correlatos, que são as causas do processo, não aparecem entre as 500 palavras mais presentes.
– A ausência dos termos entre os mais frequentes nas postagens pode indicar que o debate teve outro foco. A discussão sobre se as pedaladas fiscais sustentam ou não um processo de impeachment foi suplantado, ao menos no rol de comentários coletados, por um embate de outra dimensão, onde divergências ideológicas se manifestaram de forma mais contundente.
Para Marjuliê Martini, mestranda em Informação, Redes Sociais e Tecnologias do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS, a pesquisa com base em comentários do YouTube se difere das demais por escapar de eventuais restrições impostas pelas redes sociais.
– A análise a partir de comentários no YouTube torna-se mais ampla para a pesquisa do que em outras plataformas, como Twitter e Facebook, que aplicam filtros de ranqueamento nas timelines em virtude de anúncios e demais cerceamentos algorítmicos aplicados para a apresentação a usuários e coleta – comenta.
As 10 palavras mais citadas relacionadas ao termo impeachment no Twitter:
1. Dilma
2. Senado
3. Processo
4. Votação
5. Senadores
6. Collor
7. Presidente
8. Sessão
9. Brasil
10. Golpe
Rede de co-ocorrências de hashtags do Instagram
Comentários do canal da TV Senado no YouTube
Estudo identificou os 500 termos mais presentes nos comentários do canal da TV Senado durante as transmissões ao vivo da sessão de votação. Veja abaixo: