O ex-deputado Pedro Corrêa descreveu, em depoimentos, uma série de reuniões realizadas com políticos do PMDB para definir a divisão de propinas no esquema de corrupção envolvendo a Petrobras. A revista Veja teve acesso aos 72 anexos de sua delação, que totalizam 132 páginas e detalham articulações feitas desde os governos militares, passando pela gestão de Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso até chegar à era petista. Conforme a reportagem, os beneficiários da propina eram senadores, deputados, governadores, ex-governadores, ministros e ex-ministros dos mais variados partidos e até integrantes do Tribunal de Contas da União.
Em seus depoimentos, Corrêa relata, segundo o jornal O Globo, que o PP, em 2004, se recusava a votar projetos de interesse do governo. Isso teria mudado com a indicação de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras. Porém, o PMDB passou a pleitear parte da propina, o que gerou, conforme o ex-deputado, reuniões com políticos da legenda para "buscar o melhor entendimento na arrecadação”.
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Corrêa também relata nos depoimentos que se encontrou com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o deputado Aníbal Gomes, em um escritório de advocacia de Brasília. Fez o mesmo com Eduardo Cunha e Romero Jucá. Conforme a revista, em 2006, o ex-deputado relata uma reunião com Paulo Roberto Costa e o diretor da área de Internacional, Nestor Cerveró, além de Renan, Jucá, Jader Barbalho, Henrique Eduardo Alves e o lobista Jorge Luz. No encontro, os peemedebistas teriam pedido US$ 18 milhões em propinas para apoiar a manutenção de Costa e Cerveró nas diretorias da estatal. Eles teriam recebido US$ 6 milhões.
Há um ano, Corrêa negocia delação premiada. Seus depoimentos ainda não foram homologados pelo ministro Teori Zavascki, relator dos inquéritos e ações da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. À revista, os citados negaram ter recebido ou pago propina.
Nesta sexta-feira, a assessoria da presidência do Senado divulgou nota pública referente ao caso. No texto, Renan afirma que "não se reuniu com Pedro Corrêa e nunca o faria por se tratar de pessoa que não é de suas relações, nem políticas ou pessoais". Além disso, a nota diz que todas as doações de campanha recebidas "foram legais e aprovadas pela Justiça" e que Renan não foi candidato em 2006. O presidente do Senado pede ainda o fim das delações "citando relações inexistentes ou fictícias para sair da cadeia e expor terceiros" e argumenta que a delação que "não for confirmada" deveria agravar a "pena dos autores e não livrá-los da cadeia".
Participação de Lula
De acordo com a revista Veja, Corrêa também relata que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez interferências diretas na nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria da Petrobras. Na delação, o ex-deputado remonta um diálogo entre Lula e o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, já falecido:
– Oh, Dutra, nós não nos comprometemos com o PP, que indicou o Dr. Paulo Roberto, já há algum tempo, para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras. Porque até agora ele não foi nomeado? – teria perguntado Lula.
– Porque esta mudança de diretor é um assunto complicado dentro da Petrobras. Estão (sic) havendo resistências, além de a competência não ser só minha para nomeá-lo – respondeu Dutra, segundo Corrêa.
Lula, então, teria dito:
– E quem nomeou a maioria dos conselheiros, Dutra?
– Você, Lula! – respondeu Dutra.
– Então, quero que você diga aos conselheiros que nomeei e que se o doutor Paulo Roberto não estiver nomeado daqui a uma semana, eu vou demitir e trocar esses conselheiros que nomeei – teria dito o ex-presidente.
Outro lado
Em nota, o Instituto Lula afirmou que "há mais de dois anos o ex-presidente Lula tem suas contas, impostos, viagens e conversas devassadas e não se encontrou nenhum fato que o associe aos desvios da Petrobras, porque Lula sempre agiu dentro da lei". O texto diz ainda que ele "não participou, não foi conivente e muito menos organizou qualquer tipo de ação ilegal" e que "os investigadores da Lava-Jato sabem disso".
"Não se pode tomar como verdade a palavra de réus confessos, que negociam acusações sem provas em troca de sair da cadeia", diz a nota, que também critica a revista Veja e afirma que os advogados de Lula vão requerer acesso ao suposto depoimento para tomar "as medidas cabíveis diante de mais uma arbitrariedade".
Aécio, Nardes, Dilma e Maluf
Corrêa citou, ainda, o presidente do PSDB Aécio Neves, o ministro do TCU que reprovou as contas de Dilma Rousseff, Augusto Nardes e até o ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PP). Em um dos depoimentos, de acordo com Veja, parlamentares do PP foram reclamar com Lula sobre o avanço do PMDB nas propinas que eram pagas à diretoria de Abastecimento, cota do PP no esquema de corrupção na Petrobras.
Na ocasião, o petista teria dito aos deputados do PP que eles estavam "com as burras cheias de dinheiro" e que também tinha que "atender os outros aliados". Já em relação à Dilma, Pedro Corrêa teria afirmado que ela se reuniu com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em 2010 e teria pedido "apoio financeiro". Em nota, a presidente afastada disse que o encontro "jamais" aconteceu e que a afirmação é "absolutamente mentirosa e absurda".
O ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União, segundo o delator, teria recebido dinheiro do Mensalão quando ainda exercia mandato de deputado pelo PP. Nardes foi o relator das contas de Dilma no Tribunal de Contas e o primeiro a votar pela rejeição delas pelas chamadas pedaladas fiscais que, posteriormente, foram utilizadas como justificativa para o processo de impeachment aberto no Congresso.
O presidente do PSDB Aécio Neves foi citado, mais uma vez, como suposto destinatário de propina em uma obra da estatal de energia Furnas. À revista, o tucano alegou que o assunto já foi arquivado pela Procuradoria-Geral da República e classifica a citação como "absurda, mentirosa, irresponsável e cretina".
Paulo Maluf, que já tem dois mandados internacionais de prisão, aparece pela primeira vez citado na Lava-Jato como destinatário de R$ 20 milhões do esquema de corrupção na Petrobras para, supostamente, atrapalhar as eleições para a prefeitura de São Paulo em 2004.
*Com informações de Estadão Conteúdo