A crítica aos estudantes que vaiaram médicos cubanos em Fortaleza e à jornalista potiguar que não gostou da aparência das mulheres porque se parecem, segundo ela, com empregadas domésticas provocou uma enxurrada de cartas de protesto à Página 10. A maioria dos e-mails é de médicos inconformados com o fato de a coluna abordar "dois casos isolados" e por levantar a hipótese de que, por trás dessas manifestações, está uma postura racista. Todos garantem que a revolta é contra o governo e não contra os profissionais estrangeiros. Em menor número, as mensagens de apoio ao texto "Doentes de preconceito" são de outros profissionais.
O conteúdo das mensagens é revelador do nível a que chegou a tensão. "Esta do racismo contra os cubanos foi o clímax! Espero que tu e tua família sejam atendidas por eles daqui para frente! E boa sorte!", escreveu um especialista com 28 anos de profissão, em e-mail cujo assunto é "mente de poucas luzes".
Os médicos têm razão ao reclamar da má estrutura de trabalho. Boicotar o programa não cria essas condições. Em dezenas de reportagens publicadas nos últimos anos, ZH vem mostrando as mazelas do SUS. Na noite de terça-feira, a Rede Globo veiculou, no programa Profissão Repórter, uma síntese dos problemas no Ceará. Repórteres acompanharam o drama dos pacientes e o esforço dos médicos para superar as dificuldades.
Nada disso anula o fato de que faltam médicos na maioria dos municípios brasileiros, os prefeitos pressionaram o governo e a resposta foi o controvertido programa Mais Médicos. Além da contratação de estrangeiros, o programa prevê o aumento da oferta de vagas nos cursos de Medicina e investimentos. A primeira parte é a mais visível e polêmica. A vinda dos estrangeiros, especialmente dos cubanos, sem revalidação do diploma, provocou uma rebelião dos médicos. Embora ninguém queira trabalhar nas cidades para onde irão os forasteiros, as entidades de classe sustentam que não faltam médicos. O que falta é um plano de carreira semelhante ao de juiz e promotor, que ganham salário inicial de cerca de R$ 17 mil e começam a trabalhar em cidades pequenas, mas sabem que só ficarão lá por um tempo.
O debate sobre a carreira de Estado para os profissionais de saúde continuará. A vinda dos estrangeiros é emergencial, não resolve o problema, mas leva atendimento básico a quem não tem nada.
Opinião
Rosane de Oliveira: "À beira de um ataque de nervos"
Rosane de Oliveira
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: