Nos dias em que passou no Brasil e conquistou uma multidão de admiradores, o papa Francisco mostrou que é bom de conversa, esbanja carisma e tem jogo de cintura para lidar com temas incômodos. No penúltimo dia da visita, já ambientado ao país e bem informado sobre os protestos de rua, fez o discurso mais importante do ponto de vista político. Foi no palco do Teatro Municipal, diante de 2 mil convidados, que pregou a reabilitação da política, exaltou o diálogo e defendeu o Estado laico.
- Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo.
O Papa falou como um estadista, sabendo que o eco de suas palavras iria muito além das paredes centenárias do Municipal. Ele sabe que fala para o mundo. Comparada à primeira manifestação, no dia da chegada, quando se ateve a questões religiosas, foi um avanço e tanto. A frase inteira do Pontífice merece ser lida com atenção por quem vê na política a raiz de todos os males e por quem, no exercício do poder, desqualifica a política e contribui para o seu descrédito:
- Somos responsáveis pela formação de novas gerações, de capacitá-las na economia e na política, e nos valores éticos. O futuro exige a tarefa de reabilitar a política, que é uma das formas mais altas de caridade.
Ao defender o Estado laico, dizendo que ele é importante para a pacífica convivência entre as religiões, o Papa mostrou estar bem informado sobre os movimentos dos grupos religiosos que tentam se impor no Congresso. Ainda que doutrinariamente não discorde das teses da bancada evangélica em temas como a união de homossexuais e o aborto, o Papa deixou nas entrelinhas o recado de que a religião não deve se meter nas questões de Estado.
A pregação de Francisco não será capaz de sensibilizar radicais como os que depredam o que encontram pelo caminho nos protestos. Suas palavras são importantes para a maioria pacífica que vai às ruas e para os responsáveis pelas políticas públicas. O que ele diz é que os conflitos devem ser resolvidos pela política e não pela força. E que os governantes precisam estar atentos a esta massa que passou da indiferença ao protesto e quer se fazer ouvir.