Um dos principais desafios para os próximos quatro anos, segundo candidatos à prefeitura de Guaíba, é encontrar uma forma de proteger a cidade contra desastres naturais. No último ano, o município da Região Metropolitana foi atingido por três enchentes. A mais severa, em maio, afetou 42,9 mil habitantes – cerca de 46% da população total. Nas atuais eleições, o foco das campanhas é garantir a segurança dos moradores caso novas catástrofes climáticas ocorram.
Três candidaturas disputam a prefeitura de Guaíba, município localizado às margens do rio de mesmo nome: Cleusa Silveira (PSDB), Guilherme Schneider (PSOL) e Marcelo Maranata (PDT). O pré-candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Rudinei Fernandes, anunciou a desistência da corrida eleitoral ainda em agosto. Essa é a primeira eleição de Schneider, mas os outros dois nomes já são conhecidos entre os guaibenses. Maranata, que já concorreu a cinco cargos eletivos desde 2008, é o atual prefeito da cidade. Já Cleusa foi vereadora por três mandatos e vice-prefeita entre 2016 e 2020.
Habitada por 92,9 mil pessoas, segundo o Censo2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Guaíba teve 12 bairros afetados durante a tragédia de maio. Desses, a prefeitura afirma que seis continuam problemas estruturais causados pela enchente. Nove núcleos familiares, compostos por 22 pessoas, ainda não conseguiram retomar a rotina e voltar para as suas casas. Ainda assim, a administração municipal garante que todos os serviços essenciais – escolas, postos de saúde, entre outros – já voltaram a funcionar normalmente.
Nos planos de governo dos candidatos, disponíveis na plataforma do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as palavras “enchentes”, "alagamentos", “cheias” e “inundações” aparecem dezenas de vezes. As propostas dos candidatos envolvem ideias como a criação de projetos habitacionais para os atingidos, implementação de sistemas de alerta e monitoramento, promoção de campanhas sobre a importância da drenagem urbana e investimento em obras estruturais que possam ajudar a prevenir cheias.
Maranata defende a estruturação de um sistema de proteção em conjunto com municípios próximos:
— O desafio é proteger a cidade e a Região Metropolitana. Não tem nenhuma ação que um prefeito possa fazer de forma isolada. Então precisamos criar, o mais rápido possível, um projeto unificado que tenha diálogo entre as cidades e os planos de proteção de cheias, de diques e de bombas, para que possamos fazer a nossa parte, sabendo que estaremos protegidos em um conjunto de ações. Aí a população vai viver com tranquilidade e o empresário vai ter segurança para poder voltar a investir.
Schneider, que se descreve como candidato da oposição, concorda com a necessidade de criar uma solução unificada:
— Nós poderíamos falar de ações que são pontuais, no sentido de algumas obras de infraestrutura, tanto de reconstrução quanto para conseguir prevenir próximos eventos. Então podemos repensar formas, através de parcerias, para poder fazer planos e projetos. E também pensar que esse tipo de ação tem que ser conjunta. Não adianta Guaíba fazer uma ação isolada e não pensar no resto dos municípios que fazem parte dessa bacia toda que deságua no nosso Guaíba.
Procurada pela Zero Hora, a candidata Cleusa Silveira não conseguiu encaixar um horário para entrevista em sua agenda.
Eleição delicada
Os candidatos Maranata e Schneider entendem que, neste ano, as eleições serão diferentes. Os debates que permeiam o cenário eleitoral da cidade são outros e os temas que exigem atenção estão voltados à reconstrução de Guaíba. O candidato psolista defende que esse é o momento de pensar em políticas públicas que possam garantir uma vida mais digna.
— Nós já sofríamos aqui, em algumas regiões da cidade, problemas de alagamento. São crônicos. Houve algumas medidas no passado para tentar mitigar esse tipo de problema, que, num primeiro momento, até funcionaram. Agora, ao pensar nessa cheia trágica e histórica que aconteceu, cabe ressaltar que não podemos esquecer que o que aconteceu não é decorrência pura e simplesmente de um efeito da natureza. Nesse sentido, o desafio agora é repensar a nossa forma de se relacionar com o Rio Guaíba — acrescenta Schneider.
Para o pedetista, os últimos acontecimentos trouxeram prejuízos para a gestão pública e para a vida dos moradores, e isso marcará o pleito de 2024.
— E o que mais temos encontrado dificuldade nesses bairros é com a população. Não é que ela não está contra o político A ou político B. A população está de luto, perdeu tudo dentro de casa, não tem nem os documentos para votar e não quer saber de política. Então entendemos que, em alguns bairros, vamos ter um volume diferente das outras eleições de pessoas que não vão ir votar. Elas não querem falar de política, elas não querem ouvir agora. Ainda vivem um momento de dor. Não tem clima para ir votar — pontua Maranata.
Conheça os candidatos
Cleusa Silveira (PSDB)
Natural de Tapes, no sul do Estado, Cleusa Silveira tem 63 anos, e já é conhecida entre os moradores de Guaíba. Foi vereadora por três mandatos – eleita em 2004, 2008 e 2012 – e vice-prefeita – eleita em 2016.
Guilherme Schneider (PSOL)
Natural de Guaíba, Guilherme Schneider tem 44 anos e é servidor público do município. Ele é formado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua como fiscal de trânsito, mas já trabalhou como professor em escolas da cidade. Essa é sua primeira eleição.
Marcelo Maranata (PDT)
Natural de Camaquã, na Região Sul, Marcelo Maranata mudou-se para Guaíba para estudar. Formado em Direito pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), o candidato também é empresário. O atual prefeito da cidade é presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal).