A Polícia Civil investiga o caso de um pesquisador do Datafolha que foi agredido com socos e pontapés na tarde da última terça-feira (20) em Ariranha, cidade de 9,8 mil habitantes, na região norte do Estado de São Paulo. O profissional do instituto entrevistava um morador local quando um homem, identificado como Rafael Bianchini, se aproximou e, aos gritos, teria passado a exigir que também fosse ouvido na pesquisa.
— Só pega Lula e vagabundo — disse o agressor, no meio da rua, conforme os relatos.
O pesquisador, de 32 anos, ignorou a intromissão e encerrava a entrevista quando foi atingido pelas costas, fazendo com que o tablet usado na pesquisa caísse ao chão. Quando o pesquisador reagiu para se defender, ele passou a ser atacado também pelo filho do homem.
Vizinhos intervieram e afastaram o agressor, mas ele entrou em casa e retornou empunhando uma faca do tipo peixeira. O homem foi contido pelo filho.
O caso foi registrado na delegacia da Polícia Civil de Ariranha. Rafael Bianchini e o filho foram identificados como autores das agressões.
A reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência que apura crime de lesão corporal. A identidade da vítima está sendo preservada para segurança dela.
O delegado Gilberto Cesar Costa já ouviu os envolvidos. Devido à conotação política, o teor da investigação é mantido em sigilo. O advogado do grupo Folha, Luís Francisco Carvalho Filho, disse que o caso resultará em ação penal contra os agressores.
O pesquisador do instituto foi atendido em um pronto-socorro da cidade, com ferimento na boca e dores no corpo, sendo liberado em seguida. Atingido na cabeça, nas costas e nos braços, ele passou por exame no Instituto Médico-Legal (IML) e disse que buscará a punição dos responsáveis na Justiça, tanto pelas agressões como pelas ameaças que ele e seus colegas têm recebido nas ruas.
Em rede social, Bianchini reproduz conteúdos bolsonaristas e faz propaganda eleitoral de Jair Bolsonaro, candidato a um novo mandato na Presidência da República pelo PL.
Segundo o Datafolha, relatos de pessoas que passam gritando, acusando o instituto de ser comunista ou tentando filmar os entrevistadores como forma de intimidá-los têm sido comuns. Na maior parte dos casos, as pessoas que buscam intimidar os pesquisadores se declaram como bolsonaristas ou citam o nome do presidente Jair Bolsonaro, de acordo com a diretoria do instituto.
Somente no último dia 13, o instituto de pesquisas contabilizou 10 intercorrências em municípios de diferentes regiões do país, num universo de 470 pesquisadores. Houve casos nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Alagoas, Maranhão, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Em divulgação, o Datafolha informou ser um instituto independente de pesquisa de opinião que pertence ao Grupo Folha e atua com pesquisa eleitoral e levantamentos estatísticos para o mercado. O instituto não faz pesquisas eleitorais para governos ou políticos.
A metodologia do Datafolha prevê pontos específicos para a realização das entrevistas. No caso de mudança para outro ponto entre os mapeados, é preciso uma autorização da equipe de planejamento. O instituto diz que, nos levantamentos nacionais ou estaduais, primeiro são sorteados os municípios que farão parte do levantamento; depois, os bairros e pontos onde serão aplicadas as entrevistas.
O Datafolha também usa cotas proporcionais de sexo e idade de acordo com dados obtidos junto ao IBGE e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outras instruções são as de não dar permissão para ser filmado e a de não usar o crachá do Datafolha enquanto estiver se deslocando, apenas enquanto estiver realizando as entrevistas.
Os pesquisadores do instituto recebem um treinamento padronizado, que determina que as pessoas que se oferecem para serem entrevistadas devem ser obrigatoriamente evitadas, para que a amostra seja aleatória.