O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, deve discursar nesta terça-feira (20) na abertura da 77ª Assembleia-Geral da Organizações das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos. Como é tradição, o presidente brasileiro será o primeiro a se manifestar no evento.
O foco do pronunciamento deve ser a economia. Bolsonaro deve repetir números positivos mais recentes para se contrapor à inflação e aos estudos que mostram o avanço da fome no Brasil. Ele deve citar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a criação de vagas de emprego, a deflação nos últimos dois meses, com medidas para redução do custo de energia e combustíveis, e o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600, que ele promete manter em 2023, se for reeleito.
Segundo informações de apoiadores, o discurso foi revisado pelo marqueteiro Duda Lima e por Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Prepararam contribuições ao texto os ministros Paulo Guedes (Economia), Fábio Faria (Comunicações), Ciro Nogueira (Casa Civil) e Carlos França (Relações Exteriores).
A versão final do pronunciamento, no entanto, será fechada no Palácio do Planalto. Assessores governamentais envolvidos na elaboração do texto dizem que a linha será decidida por Bolsonaro. Mas já esperam que o presidente exalte suas políticas de governo, em viés mais eleitoral do que de Estado.
Sem criticar diretamente a invasão russa, Bolsonaro deve dizer que o Brasil defende sempre a integridade territorial das nações e a busca de uma solução duradoura do conflito por meios diplomáticos. A arena adequada, do ponto de vista do governo brasileiro, seria o Conselho de Segurança da ONU — o país reivindica a reforma do órgão e um assento fixo no colegiado.
Ao citar a guerra, o presidente deve lembrar o acolhimento aos ucranianos refugiados no Brasil. Na última sexta-feira (16), ele realizou agenda com a comunidade ucraniana em Prudentópolis, no Paraná.
Bolsonaro deve reforçar a posição do país como celeiro do mundo, garantindo a segurança alimentar de bilhões de pessoas por meio das exportações do agronegócio e como gerador e fornecedor de energias renováveis. O presidente vai mencionar que os subsídios agrícolas distorcem a produção sustentável e que o país tem uma matriz energética limpa e está disposto a aumentar a oferta de energia ao mundo, no momento em que há aumento do uso de fontes mais poluentes, em decorrência da guerra.
Embora a Assembleia-Geral da ONU seja uma agenda de Estado, a coordenação da campanha de Bolsonaro quer que ele faça um aceno ao público interno. O presidente foi aconselhado a não fazer ataques diretos a potências como a China, mas deve se opor a regimes autoritários de esquerda. Além disso, são esperadas caravanas de apoiadores para recepcionar o presidente na chegada aos Estados Unidos nesta segunda-feira e em um almoço, após o discurso, na terça.
No ano passado, o presidente apresentou dados distorcidos em seu discurso na ONU. Ele defendeu, por exemplo, o chamado "tratamento precoce", um kit de medicamentos considerados inócuos contra a covid-19 por cientistas e autoridades médicas de diversos países.
Bolsonaro em Londres
Antes de ir a Nova York, o presidente esteve em Londres, no Reino Unido, onde participou do funeral da rainha Elizabeth II. “Na Abadia de Westminster, prestamos uma última homenagem à rainha Elizabeth II e apresentamos, em nome do fraterno povo brasileiro, nossas orações para que Deus console o rei Charles III, sua família e seu povo, firmes na esperança de que estaremos todos juntos na vida eterna”, escreveu Bolsonaro, em publicação nas redes sociais.
No domingo (18), o chefe do Executivo e a primeira-dama, Michelle, foram recepcionados pelo rei Charles III no Palácio de Buckingham. A cerimônia, que contou com a presença de mais de cem chefes de Estado, fez parte do cronograma do funeral da rainha.
Bolsonaro assinou o livro de condolências pela morte da monarca, na Lancaster House. O presidente também fez um comício para apoiadores, com foco na pauta de costumes, em frente à casa do embaixador do Brasil no Reino Unido.
Enquanto Bolsonaro está fora do país, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, está no comando da Presidência da República. Ele deve permanecer no exercício do cargo até quarta-feira (21), dia em que o mandatário deve retornar ao Brasil.