
Um esquema para dar falsa ideia de popularidade a candidatos nas eleições foi revelado neste domingo (15) pelo Fantástico em reportagem produzida pela RBS TV. Usando perfis de pessoas reais, empresas especializadas vendem seguidores, curtidas, comentários e até visualizações em postagens das principais redes sociais.
Para mostrar o esquema, o repórter da RBS TV Giovani Grizotti criou vários perfis de um candidato fictício e não registrado na Justiça Eleitoral, chamado Virtu Aldo, com rosto gerado em computador a partir da sobreposição de imagens de diversas pessoas. As negociações, via chamadas de vídeo, foram gravadas a partir de uma sala no prédio da emissora, decorada para dar a aparência de comitê eleitoral, com cartazes, santinhos e até máscara personalizada.
Localizada em São José do Norte, no sul do Estado, a empresa Campanha Eleitoral 2020 é especializada em criar perfis para candidatos a vereador e a prefeito. Além de seguidores, vende também “deslikes”, ou seja, avaliações negativas de determinadas postagens, o que pode ser usado para prejudicar concorrentes em uma campanha.
"Já trabalhamos para grandes nomes da política e, se eles tiveram sucesso, você terá", garante um anúncio no site. Procurada pela reportagem, a empresa alega não existir restrições para a oferta desse tipo de serviço no Brasil.
Geralmente, o esquema de venda de interações nas redes sociais para políticos e celebridades segue uma tabela. Quanto mais segmentada a solicitação, mais caro o trabalho. Assim, seguidores internacionais são mais baratos que seguidores brasileiros. Se o contratante deseja um lote de seguidores de um determinado Estado, o valor aumenta ainda mais.
Para “bombar” uma postagem do santinho da campanha de Virtu Aldo no Facebook e no Instagram, o repórter da RBS TV comprou comentários elogiando as propostas. Ele escreveu o que gostaria que aparecesse no post, enviava para a empresa, fazia o pagamento (três comentários custam R$ 19) e, em algumas horas, os elogios apareciam. Um deles foi publicado pelo perfil da auxiliar de padeiro de Garibaldi, na Serra, Luciana Dias Vargas. Perguntada como a empresa pode ter tido acesso a sua conta, respondeu:
— Não tenho a menor ideia.

No submundo do marketing digital, o repórter também identificou a venda de postagens pré-elaboradas, fornecidas por uma empresa de Goiás. Os textos sugerem que os candidatos explorem “valores religiosos e da família” e publiquem até uma história, previamente elaborada pela empresa, sobre um acidente de trânsito ocorrido no passado.
"Enquanto me recuperava, comecei a procurar saber mais sobre um assunto que sempre me interessei, que é a gestão pública. Estudei tudo que tinha a respeito e comecei minha carreira na política", sugere a cartilha, que deve ser postada seguida de uma foto “que ilustra o momento ou a idade que tinha no momento (do acidente)".
Os textos são distribuídos todos os dias em um grupo de WhatsApp no qual Virtu Aldo se infiltrou. No grupo, há mais de 200 candidatos de todo Brasil, incluindo de cidades gaúchas como Tramandaí, São Lourenço do Sul, Rio Grande e Cotiporã.
Além de flagrar crimes no universo virtual, o repórter que se fez passar pelo Virtu Aldo também documentou compra de votos, manipulação de pesquisa por um instituto do interior do Paraná e oferta de propina (destinada a campanhas políticas) em contratos para a venda de testes rápidos de coronavírus.
— Se o Virtu Aldo fosse um candidato real, seria cassado — avaliou o advogado especialista em direito eleitoral José Luiz Blaszak.
No mundo virtual, o candidato foi, de fato, banido: mesmo ocultadas pelo repórter, sendo impossível de serem acessadas pelo público, as contas foram removidas por Facebook e o Instagram sob a alegação de que suas políticas foram violadas.