Confirmada a presença no segundo turno das eleições, a coordenação de campanha do governador José Ivo Sartori (MDB) vai se dedicar a uma meticulosa articulação que permita selar aliança com o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no embate final, mas com os devidos cuidados para não afastar outros potenciais aliados como o PDT do Rio Grande do Sul.
Entre os políticos mais próximos de Sartori, é latente a preferência pela aproximação com o capitão da reserva, desde o vice-governador José Paulo Cairoli (PSD) até decanos emedebistas como Luiz Roberto Ponte.
– A minha posição pessoal é muito clara, estarei defendendo junto ao MDB o nosso apoio ao Bolsonaro. Não tenho nada a ver com o outro lado (PT) – afirmou Cairoli.
Os partidos aliados de Sartori se reúnem nesta segunda-feira (8), às 11h, para iniciar o debate. Cairoli, que já havia costurado aproximação com o general Hamilton Mourão (PRTB), vice de Bolsonaro, está na ponta de lança das negociações. Na terça-feira (9), irá se encontrar pessoalmente com Bolsonaro e Mourão. Falta apenas decidir o local.
– No fundo, no fundo, Sartori defende algumas coisas semelhantes ao Bolsonaro, como o respeito à família, a condenação da corrupção, os valores da civilização ocidental e um novo pacto federativo. É a posição que vou defender – diz Ponte, integrante da coordenação de campanha.
A possível parceria com o presidenciável do PSL é vista como reforço à candidatura de Sartori, na carona do antipetismo que correu a maioria das regiões do Brasil. Há, contudo, pontos sensíveis nesta equação.
— O fato de apoiar uma candidatura, tendo só duas opções, o PT ou ele (Bolsonaro), não significa dizer que temos acordo com tudo o que ele pensa. Então, o que precisamos encontrar é o ponto de equilíbrio. De tal forma que possamos dar conforto para os partidos que não foram ao segundo turno e que queiram estar conosco, sem perder a renovação apontada na figura de Bolsonaro — avaliou o deputado federal reeleito Alceu Moreira, presidente do MDB gaúcho.
Sartori foi mais comedido nas avaliações. Disse que iria respeitar as decisões coletivas, mas sinalizou aproximação com os setores mais à direita ao resgatar antiga parceria entre a Arena e o MDB na instalação do polo petroquímico de Triunfo.
Outra aposta do MDB será buscar apoio de lideranças do PP, sigla que está coligada com o adversário Eduardo Leite (PSDB). O PP ocupou importantes secretarias do governo Sartori até meados do primeiro semestre de 2018, e a convicção é de que nomes da legenda ajudem o governador.
– Parte do PP já está ao nosso lado, não tenho dúvida. É um partido que esteve no governo quase até o fim, queremos contar com o voto individual de figuras do PP. O voto do partido como instituição, é claro, será do Leite – diz Ponte.
O MDB partirá ao ataque contra Leite, atrelando ele às supostas fraudes em exames preventivos de câncer que estão sob investigação em Pelotas, cidade onde o tucano foi prefeito. E a estratégia não irá parar por aí.
– O PSDB faz gestões ruins em Porto Alegre e em Santa Maria, tem o problema da saúde em Pelotas. Em cidades importantes, o PSDB não vai bem. Olha Porto Alegre, uma cidade esburacada, suja, abandonada – diz uma liderança do MDB, indicando que o partido buscará vincular Leite ao prefeito da Capital, Nelson Marchezan (PSDB).
Sobre o tema, Sartori evitou ataques pessoais, mas foi incisivo ao comentar o que projeta para o embate com Leite no segundo turno. Assegurou que quer um debate “sem vitimismo”, uma advertência indireta à reação do ex-prefeito de Pelotas ao ser criticado pela suposta fraude nos exames na cidade do sul do Estado.
– Vamos propor comparações ao povo gaúcho. Vamos comparar trajetórias, experiências, estilos, projetos, visão social e escolhas políticas – afirmou Sartori.
O governador ainda disse que as duas candidaturas que passaram ao segundo turno – a dele e a de Leite – não eram oposição ao seu governo. Isso porque o PSDB fez parte da gestão Sartori, ocupando posições importantes.
– (A soma dos votos válidos das duas candidaturas) dá mais de 60%. Estamos no rumo certo – disse Sartori.
Entre emedebistas, o clima é de confiança. Com 31,11% dos votos, ele ficou mais próximo de Leite do que os institutos de pesquisa projetavam.
– Sartori chega tendo uma verdadeira vitória. (Germano) Rigotto e Yeda (Crusius) não foram ao segundo turno. Por isso se justifica o nosso entusiasmo. Temos possibilidades de agregar novos eleitores – avalia Idenir Cecchim, coordenador-geral de campanha.
Na mesma linha, Sartori declarou que “não somos orgulhosos e aceitamos ajuda” de todos. Mesmo sem se aproximar do PT, a ideia da coordenação de campanha é vender ao eleitor de centro-esquerda que o emedebista tem maior preocupação social do que Leite.
O candidato à reeleição continuará a defender o enxugamento do Estado e a venda de empresas públicas como CEEE, Sulgás e CRM. O discurso da continuidade da gestão, para que ele possa prosseguir o que começou, como no caso das tentativas de extinção de órgãos públicos considerados desnecessários, ultrapassados ou negociáveis, será enfatizado em um Estado acostumado a trocar de governador a cada quatro anos.
No debate das estatais, aliás, virá mais crítica ao oponente de segundo turno: o MDB debita na conta do PSDB, que se opôs à medida na Assembleia, parte da responsabilidade por não ter ocorrido junto da eleição deste domingo (7) um plebiscito para que a população se posicionasse sobre a venda de empresas públicas.
Em entrevista coletiva após ser confirmado no segundo turno, Sartori falou por mais de uma hora com a imprensa, mantendo o bom humor. Em determinado momento, atrapalhou-se ao confundir o nome de uma repórter, que disse errado diversas vezes. Diante de um silêncio breve que se fez no auditório, o candidato ao Senado Beto Albuquerque (PSB), que não conquistou vaga, lascou o bordão de campanha: “O Gringo tá certo”, para risos gerais de uma militância que sai confiante do primeiro turno em busca da reeleição ao Palácio Piratini, algo ainda inédito.
Por que Sartori avançou
Queda de rejeição
Na avaliação de aliados, um ponto fundamental para o desempenho de José Ivo Sartori no primeiro turno foi a queda da rejeição. No início do pleito, destaca o coordenador-geral de campanha, Idenir Cecchim, cerca de 50% diziam que não votariam no governador em hipótese alguma.
Às vésperas da eleição, o índice caiu para a casa dos 30%. Para Cecchim, a queda da rejeição se deu porque o emedebista conseguiu demonstrar que as dificuldades do Estado são reais. Diante do quadro, ele teria conseguido neutralizar muitas das promessas dos outros candidatos ao questionar como arrumariam o dinheiro para realizar o que estavam propondo.
Senso de justiça
O maior desgaste do governo Sartori foi a questão do atraso nos salários do funcionalismo. Sobre isso, a coordenação de campanha entende que Sartori conseguiu fazer justiça ao dar preferência à quitação dos salários mais baixos do serviço público. Quem ganha mais, fica para o fim da fila. A avaliação é de que isso produziu senso de justiça captado pela população.
Diminuição de indicadores de criminalidade
Outro ponto sensível do governo Sartori é a segurança pública. Mas, também nesse item, a análise é de que foram produzidos avanços nos últimos dois anos e meio, após a posse de Cezar Schirmer na Secretaria da Segurança. Embora ainda elevados, importantes indicadores de criminalidade caíram. E o policiamento, com medidas de remanejamento e contratações, passou a ser mais visto nas ruas.
Já estar no Piratini
Também favoreceu Sartori o fato de já ser governador, o que permite ter a máquina e iniciar a caminhada eleitoral sendo conhecido da população, contra candidatos que, por vezes, ainda precisam se apresentar à maioria do eleitorado.
Desgaste da esquerda
O momento de desgaste da esquerda contribuiu para colocá-lo no segundo turno. O PT, pela primeira vez desde 1990, ficou de fora da reta final. E o PDT, numa posição mais moderada, mas com princípios e origens de esquerda, não decolou com Jairo Jorge.