O desejo de mudança no cenário político, manifestado por grande parte do eleitorado que foi às urnas no domingo (7), contribuiu para a formação de uma nova conjuntura na Assembleia Legislativa gaúcha. Mais mulheres, maior número de partidos e muitas caras novas moldarão o parlamento estadual após a eleição que configurou uma das maiores renovações da história da Casa.
A partir de 2019, mais da metade das cadeiras serão ocupadas por deputados que assumem o primeiro mandato. Serão 28 estreantes e 27 reeleitos. Esse índice, nas duas eleições anteriores, havia ficado em 40% (22 novos contra 33 veteranos). Especialistas políticos apontam que a renovação é efeito da crise nos partidos, que motivou o desejo de uma nova forma de governar.
– A população demonstrou que não estava mais a fim dos partidos que estão aí, especialmente os de centro, que participavam de todo o processo de governo, como MDB, PSDB e até PT. Todos estavam, de uma forma ou de outra, com alguns de seus personagens envolvidos na Lava-Jato. Trocar as peças do jogo foi uma forma de se colocar contra o sistema – explica Gustavo Grohmann, professor do Departamento de Ciência Política da UFRGS.
É o que defende também a cientista política e diretora do Instituto de Pesquisas de Opinião (IPO), Elis Radmann. Para a especialista, o anseio popular relacionado ao descrédito com a política no Brasil, que já estava sendo manifestado durante o período de campanha eleitoral, foi o grande motivador dos votos:
– Via de regra, isso está associado à corrupção, mas neste ano também está ligado à insegurança pública e à sensação de que os políticos atuam em causa própria. São eleitores que defendem a moralidade e se dizem indignados com o que está acontecendo no Brasil, por isso as novas siglas que passarão a compor a Assembleia.
A partir de 2019, a Casa contará com a maior diversificação de representações no parlamento estadual. Serão 17 partidos, dois a mais do que em 2014. MDB e PT seguirão ocupando as maiores bancadas na Assembleia – oito deputados para cada partido. Representantes petistas seguem em declínio – em 2010, a legenda contava com 14 deputados, e em 2014, o número caiu para 11.
Partido de Bolsonaro forma bancada inédita
O MDB se manteve estável, com oito deputados estaduais eleitos nos últimos três pleitos. Partido de Jair Bolsonaro, o PSL contará pela primeira vez com representações no parlamento estadual, com quatro candidatos eleitos. Para a doutora em Ciência Política e professora do Departamento de História da UFRGS Céli Pinto, o resultado de 7 de outubro, que incluiu novos partidos mais alinhados com a direita, mostra também a predominância de dois discursos que serviram para moldar o voto dos eleitores: classe social e gênero.
– É possível observar essas duas variáveis na atual configuração da Câmara de Deputados e da Assembleia Legislativa. Há uma variável que é o gênero. Nunca as mulheres estiveram tão presentes nas campanhas políticas, e elas chegaram também representando o que é diferente. Tanto a guinada de direita quanto o aumento no número de mulheres se dão pelo desejo de mudança – explica.
O pleito deste ano elegeu nove deputadas estaduais (16% do total da Casa), aumento de duas mulheres em relação a 2014 e que representa a maior quantidade de representantes do sexo feminino na história da Assembleia. Para Elis Radmann, esse acréscimo se deu porque essas mulheres já têm, em sua maioria, uma trajetória política.
– São mulheres que têm uma carreira sendo construída, o que é diferente dos candidatos do PSL, que entraram e trouxeram consigo outros candidatos que vêm pelo discurso da moralidade – diz a cientista política.
Ainda de acordo com diretora do IPO, outro fator que contribuiu para o aumento no número de deputadas é que, com as regras desta eleição, em que ficou definido que as mulheres teriam direito a 30% das verbas de campanha eleitoral, as candidatas passaram a ter mais visibilidade.
As nove deputadas eleitas:
- Any Ortiz (PPS) - 94.904 votos (1,64%)
- Silvana Covatti (PP) - 75.068 (1,30%)
- Luciana Genro (PSOL) - 73.865 (1,28%)
- Kelly Moraes (PTB) - 44.755 (0,77%)
- Juliana Brizola (PDT) - 43.822 (0,76%)
- Franciane Bayer (PSB) - 40.317 (0,70%)
- Sofia Cavedon (PT) - 32.969 (0,57%)
- Zilá Breitenbach (PSDB) - 24.115 (0,42%)
- Fran Somensi (PRB) - 15.404 (0,27%)