Mesmo com o apoio de nomes importantes do MDB gaúcho, como os ex-governadores José Ivo Sartori e Germano Rigotto, além do deputado estadual Carlos Búrigo, que preside a sigla em Caxias do Sul, os candidatos do partido não se destacaram nas eleições municipais. O MDB não conquistou cadeiras na Câmara de Vereadores nem na prefeitura para os próximos quatro anos.
O partido, que surgiu durante a ditadura militar e permanece ativo, teve desempenho inferior às eleições anteriores. Elegeu três vereadores em 2012, quatro em 2016 e dois em 2020. Em 2024, nenhum dos vereadores foi eleito, mesmo com nomes de peso concorrendo pela sigla como Mauro Pereira e com a coligação majoritária, "Somos Mais Caxias" entre MDB e PSD, que obteve apenas 8,17% dos votos válidos, ou 19.172. Búrigo acredita que a demora para lançar candidatos, tanto na majoritária quanto na proporcional, pode ter prejudicado o resultado.
— Nós tivemos que fazer uma convenção, pois nós tínhamos o (ex-vereador e ex-deputado federal) Mauro Pereira, que queria ser candidato (a prefeito), e o Felipe (Gremelmaier). Nos atrasamos com isso, até por causa da enchente. Quando saímos, as outras candidaturas já estavam postas, então é claro que a demora para que a gente escolhesse o nosso candidato influenciou tanto no desempenho da majoritária, mas também na montagem da nossa chapa de vereadores. Então isso tem que servir também como aprendizado para que na outra eleição possamos ter um planejamento e a escolha de nossos candidatos com mais tempo. Será feita uma análise interna — afirma.
O cientista político Marcos Paulo Quadros avalia que ainda é cedo para falar em crise no partido, mas destaca que a busca do MDB por eleitores de centro-direita complicou sua situação, competindo com o PSDB de Adiló Didomenico, atual prefeito. Ele acredita que se uma figura como o ex-governador José Ivo Sartori tivesse concorrido, o cenário poderia ser diferente.
Já o cientista político Fábio Hoffmann destaca que a ascensão de partidos conservadores, como PL, PSD e Republicanos, reflete as transformações sociais. Segundo ele, esses partidos crescem por representarem o que a sociedade está se identificando, e esse fenômeno também ocorre em Caxias do Sul. A cidade, que antes elegeu figuras como Pepe Vargas (ex-prefeito, deputado estadual do PT) e Sartori, agora vê a força de partidos de direita que defendem pautas conservadoras. Além disso, também há a falta de renovação das lideranças, considera Hoffmann.
O Pioneiro ouviu lideranças do MDB sobre o resultado e os próximos passos da legenda. Confira.
O que dizem as lideranças
Vilmar Zanchin - Presidente do MDB Estadual
"A avaliação que eu faço do MDB no Estado é positiva, porque a gente manteve, praticamente, o mesmo número de prefeitos, de vice-prefeitos e vereadores. É claro que pontualmente, em algumas regiões ou municípios, nós tivemos sucesso em alguns, e em outros, um desempenho que ficou aquém daquilo que era a expectativa, como é o exemplo de Caxias do Sul. A primeira avaliação tem que ser feita pelo diretório municipal, e eu confio muito que farão essa discussão dos motivos que levaram a esse resultado. Caxias é uma cidade que já nos entregou grandes líderes do partido com relevância no Estado, mas feita essa primeira análise, certamente o diretório estadual vai conversar com a direção municipal para também compreender o que ocorreu e realizar alguma correção de rumo do partido para que a gente possa no próximo pleito, em 2028, ter candidatura competitiva para o executivo e também eleger os vereadores."
Felipe Gremelmaier - Candidato a prefeito
"Temos que fazer uma discussão interna muito profunda. Fazer uma autoanálise interna para ver as situações que estão acontecendo e se preparar para o futuro. Repensar ações do partido, buscar a reaproximação com as comunidades, acho que isso é fundamental, fizemos durante a campanha, mas precisa ser feito permanentemente. Não de forma individual, mas de partido mesmo. Já em relação à majoritária, a gente fez tudo aquilo que estava ao nosso alcance, nós tivemos o retorno muito positivo das pessoas na rua, a gente propôs algo diferente, que é aquilo que a gente acredita, de união, de respeito, de debater a cidade, debater a política, para fugir dessa questão da polarização, e a gente sabe que isso também tem um preço, mas a gente assumiu isso com maior tranquilidade. A gente acha que esse é o caminho."
Ari Dallegrave - Ex-presidente do MDB Municipal
"Será o fim do MDB de Caxias? Evidentemente que não, mas é sim, um momento de reflexão e construção de novos caminhos, porque as urnas nos disseram que devemos mudar. Para um emedebista histórico, o desfecho desta eleição será escrito com dor e lágrimas. Não é o momento de apagar a luz, mas sim de aglutinarmos todos aqueles que desejam ver o velho MDB reescrever a sua atuação, a sua grandeza e a sua credibilidade. E essa retomada não é para a próxima eleição, mas já na decisão a ser tomada ainda em outubro para o segundo turno. Esta decisão deverá ser com cautela, visando ao interesse da comunidade caxiense e do nosso MDB do presente e do futuro. Vencemos a última eleição em cabeça de chapa com Sartori ainda em 2008, portanto, já na próxima eleição municipal, lá se passarão 20 longos anos. Vamos em frente, a reconstrução depende de todos nós."
Guerino Pisoni Neto - Ex-presidente do MDB Municipal
"O Felipe é uma bela pessoa, mas não é conhecido, não tem voto para tal. O MDB que, em 2000, de 21 vereadores tinha 4, quando assumi, em 2004, baixou para 17 e fizemos cinco vereadores. Em 2008, fizemos seis, cinco do MDB e um da coligação. Foi o que disse em abril, o que faltou foi humildade e ouvir os filiados. Agora, começar tudo de novo, voltar a ter lideranças de bairro, lideranças estudantis, etc, e organizar a lista de candidatos um ano antes, e não na véspera."
Mauro Pereira - ex-vereador e ex-deputado federal
"O partido vem enfraquecendo há diversas eleições e isso é lógico que é uma falta de envolvimento com a sociedade. Hoje o MDB está realmente muito fragilizado, com poucas pessoas interessadas em ajudar o partido, então, é muito triste. Eu mesmo nunca mudei de partido e nunca vi uma coisa tão ruim que nem vem acontecendo ultimamente na sigla. Realmente há uma falta de entusiasmo maior com a sociedade e é isso aí que vem diminuindo o tamanho do partido. O povo quer uma coisa, o partido faz outra, aí dá tudo errado mesmo."