A Câmara de Vereadores deve entregar o "Prêmio Caxias do Sul" ao presidente Jair Bolsonaro que deverá vir à cidade dia 9 de julho. A outorga é uma iniciativa da Mesa Diretora do Legislativo, que só precisa da publicação de uma resolução para oficializar a homenagem - consiste em um troféu com brasão do município e reprodução do Monumento Nacional ao Imigrante, além de um distintivo de lapela. O decreto legislativo que instituiu a outorga é de 2006 e prevê sua destinação a "pessoas ou entidades, locais ou de outros municípios, que se destaquem em serviços prestados à comunidade de Caxias do Sul nos mais diferentes campos de ação".
O presidente da Câmara, Velocino Uez (PTB), justificou que a decisão surgiu de uma reunião da Mesa Diretora e foi unanimidade. Além de Uez, compõem a Mesa os vereadores Elisandro Fiuza (Republicanos), Zé Dambrós (PSB), Marisol Santos (PSDB) e Felipe Gremelmaier (MDB).
— Decidimos que, independente de quem seja o presidente, não se está discutindo sigla, a entidade Câmara deve, sim, um momento de reconhecimento por ele vir visitar nosso município. Não é sempre que um presidente vem visitar o município, vêm às vezes na Festa da Uva, mas esse é um momento diferente — defende Uez.
O presidente afirma que todos os líderes de bancadas foram consultados e que apenas o PT e o Novo foram contrários à homenagem. O Pioneiro consultou o posicionamento de cada um dos 23 vereadores (confira abaixo). Apenas cinco deles disseram contrários à homenagem.
Com relação ao momento de pandemia e contestações quanto à responsabilização do governo federal nas mais de 500 mil mortes e recentes acusações na CPI da Covid que apontam corrupção, Uez diz que cabe "ao povo" a interpretação.
— Esse entendimento é do povo. Estamos representando toda a comunidade, ele é o presidente da nossa nação. Não discutimos se é mais acertos ou erros, quem tem de fazer essa leitura é o povo. Naquele momento, é reconhecimento de ele vir para a nossa cidade, não é por questão de acerto e erro.
O presidente da Câmara nega que homenagem signifique necessariamente a celebração de Bolsonaro.
— Não é celebração. É um reconhecimento de uma visita para a nossa cidade. O custo (do prêmio) será zero (para a Câmara). O custo que será colocar o nomezinho no troféu, custa uns R$ 20, e a Mesa Diretora fez questão de ratear esse valor — afirma.
A resolução de Mesa que confirma a homenagem ainda não foi publicada.
Anteriormente, apenas Dilma Rousseff (PT) recebeu o Prêmio Caxias, em fevereiro de 2014, quando anunciou a entrega de máquinas agrícolas para a região. Em 2004, Lula também foi agraciado com honraria semelhante, que na época se chamava Medalha Caxias Do Sul.
O QUE DIZEM AS ENTIDADES
"É inadequado e inoportuno considerando a situação do que o país vive. Também não se vê nada que possa ser comemorado, homenageado. Temos é visto uma condução que agravou a crise econômica e principalmente a crise sanitária que levou à morte de mais de 512 mil brasileiro. Não tem motivo nenhum para se comemorar ou feito a ser homenageado. O cargo existe por força de lei, então teria de homenagear todos os que foram presidentes, todos governadores, prefeitos. Não faz sentido. A homenagem é ele ter sido eleito e, se o povo quiser homenagear de novo, o reeleja, não cabe à Câmara. Essas homenagens são maneira de jogar confete, é perda de tempo, de dinheiro público. Não vejo razão, nem para o atual presidente e nem por anteriores." Rudimar Luis Brogliato, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), subsecção Caxias do Sul
"Se ele vem para Caxias, é presidente da República, não teria nada contra. Aliás, é uma justa homenagem, afinal ele veio prestigiar Caxias do Sul. É importante recebermos bem o nosso presidente. Se fosse o (ex-presidente) Lula não veria problema nenhum, a gente está recebendo o presidente da República." Ivanir Gasparin, presidente da CIC
"A União de Associações de Bairros (UAB) vem a público manifestar repúdio à iniciativa da Câmara Municipal em homenagear o presidente Jair Bolsonaro em suposta visita a cidade. O Brasil enfrenta um cenário lastimável de crise social, política, institucional, econômica e sanitária, causada pela política negacionista e irresponsável de Bolsonaro e sua cúpula. Em meio a tantas adversidades enfrentadas pelo povo e o descrédito crescente deste governo, é incabível qualquer tipo de homenagem. Os recentes indícios levantados pela CPI da Covid apontam ainda a corrupção fisiológica deste governo." Nota oficial da UAB, a União das Associações de Bairros
OS 23 VEREADORES
Os favoráveis
"Totalmente favorável. Temos de respeitar a democracia e principalmente o presidente da nação, independente da questão partidária. Eu não tenho contestação nenhuma, o presidente pra mim está fazendo um ótimo trabalho. Essas supostas corrupções existiram em todos os governos, só que o governo tem de saber eliminar isso o quanto antes. Não vi corrupção na pessoa presidente Bolsonaro. Não atribuo a ele (os mais 500 mil mortos)". Adriano Bressan (PTB)
"Sou favorável, porque não estamos falando da pessoa Bolsonaro, mas dele como chefe de Estado. Acho que nada mais justo do que prestar essa homenagem. Até porque o governo federal, além de mandar diversos recursos referentes à covid-19, está dedicando esforços para colocar em funcionamento o Aeroporto da Serra Gaúcha. Todo político que ajuda a nossa região acho que é válido o reconhecimento. Não vou entrar nesse mérito, mas se ele (ex-presidente Lula) fosse presidente e não tivesse sido condenado, talvez sim." Alexandre Bortoluz, o Bortola (PP)
"Sou a favor de qualquer força política de A ou B que venha fortalecer nossos projetos e fortalecer sociedade caxiense." Clóvis Xuxa (PTB)
"A questão é a presença do presidente da República que vai estar visitando a nossa cidade, prestigiando algo positivo, que é o grafeno. Não vai ter custo, então não vejo nenhum problema. Tem coisas que ele fez equivocadamente? Tem, mas tem coisas que ele tem buscado fazer o melhor." Elisandro Fiuza (Republicanos)
"Trata-se de um ato institucional, e não político, uma deferência da presidência da Câmara Municipal à Presidência da República. Caxias do Sul sempre teve tradição por receber bem seus presidentes, como ocorreu com Itamar Franco, FHC, Lula, Dilma, e tantos outros." Felipe Gremelmaier (MDB)
"Temos de respeitar que ele é presidente do país. Essa homenagem é válida ou não, cada um avalia, mas é uma autoridade. Não vejo problema nenhum." Gilfredo De Camillis (PSB)
"Sou favorável porque todos os presidentes que vieram para Caxias do Sul ou alguma visita informal sempre foram homenageados. Acho que não poderíamos fazer diferente." Gladis Frizzo (MDB)
"O entendimento da nossa bancada é de que a homenagem vai além da questão pessoal. A homenagem proposta é institucional, portanto não é dedicada à pessoa, mas direcionada à maior autoridade do país, que é o presidente da República e que, em visita à nossa cidade. Pessoalmente, não proporia a entrega, mas, como iniciativa da Casa Legislativa, acho importante apoiar." Marisol Santos (PSDB)
"Sou a favor. É um gesto institucional. Independente do presidente que viesse, não importa partido, posição política, acho cortês, acho um dever receber ele com homenagem. Não estou dizendo se governo é bom ou ruim. (Se fosse o Lula) não teria problema nenhum, faria a mesma coisa." Olmir Cadore (PSDB)
"Respeito a figura da autoridade máxima do país, presidente da República. Depois dos escândalos de corrupção e crimes, seria contra (homenagem ao ex-presidente Lula), antes disso seria favorável, mas depois da corrupção e crimes comprovados, inclusive julgados, seria contra. O presidente Bolsonaro não tem nada nesse sentido que o desabone." Ricardo Daneluz (PDT)
"Independente de quem seja, é o presidente da República. A questão não é política. Os bonitos gastam dinheiro público para ir a Brasília buscar verba e aí querem tratar mal o presidente quando vem aqui, não querem dar prêmio, um reconhecimento, mesmo que não seja a favor, mas um reconhecimento por ser presidente. Nem é um prêmio, é uma bijuteria, qualquer coisa pago eu porque custa uma miséria. Seja Lula, Dilma, Bolsonaro, é o presidente da República." Sandro Fantinel (Patriota)
"Em respeito ao cargo ocupado por ele e por tratar-se de uma ação institucional da Câmara, sou favorável. Tenho ressalvas com algumas atitudes do Bolsonaro, principalmente, com relação à condução da pandemia. Porém, entendo que o representante da nação, assim como outros presidentes que vieram na cidade, devem ser condecorados com o mérito." Tatiane Frizzo (PSDB)
"Decidimos que, independente de quem seja o presidente, não se está discutindo sigla, a entidade Câmara deve, sim, um momento de reconhecimento por ele vir visitar nosso município." Velocino Uez (PTB)
"Sim, é uma homenagem institucional ao presidente da República, seja ele quem for. É da Câmara ao presidente." Wagner Petrini (PSB)
"Sim. Ele foi eleito. Foi uma decisão da Mesa Diretora e, se fosse outro ou outra, também faríamos." Zé Dambrós (PSB)
"Não, mas sim"
"Como defensor da democracia, acho pertinente sempre demonstrar respeito ao chefe do executivo. Todavia tenho um compromisso sério com o dinheiro público, mesmo que o gasto na homenagem seja simbólico, neste momento que lutamos para nos recuperar da pandemia acho que dar o exemplo é importante e por isso sou contra o gasto com essa ou qualquer outra homenagem. Dinheiro público não é para ser gastado com homenagem. Se não for com dinheiro público, neste caso sim." Mauricio Marcon (Novo)
"Acho que não poderia ser entregue neste momento, pois as homenagens estão suspensas, então não poderíamos homenagear ninguém. Agora, outros ex-presidentes receberam esse prêmio. Então acho que se outros receberam não podemos ser sectários de não entregar. É uma tradição, então é mais uma questão diplomática do que de ideologia." Rafael Bueno (PDT)
"A Mesa está propondo, não tenho nada contra. Mas, na minha opinião, em virtude da condição que está o país não seria o momento de homenagear, mas o presidente da Casa encaminhou essa proposta, mesmo que eu seja contra alguns posicionamentos, é o presidente que vai estar em Caxias. Respeito a Mesa nessa posição." Renato Oliveira (PCdoB)
Contrários
"Óbvio que sou contrária, principalmente pelo fato de estar acontecendo tudo o que está acontecendo e estarmos vendo na CPI da Covid que foi sim por responsabilidade de Jair Bolsonaro os mais de 500 mil mortos no país. A vacinação poderia ter ocorrido antes, o Brasil voltou ao mapa da fome". Estela Balardin (PT)
"A Câmara está com todas as homenagens suspensas neste momento. Então teríamos muito mais hospitais, profissionais de saúde que poderiam estar sendo homenageados, estão na linha de frente e não podemos homenagear. Aí abriu-se uma exceção com um presidente que tem responsabilidade para avanço da pandemia no Brasil, acho que não caberia homenagem a um presidente como esse." Denise Pessôa (PT)
"Há uma determinação da Mesa Diretora que suspende qualquer homenagem da Câmara durante a pandemia. O presidente da República é o chefe maior do Estado, mas entendo que essa regra deve ser aplicada a todos. Mais de meio milhão de brasileiros perderam suas vidas só de covid, não temos nada a comemorar, mas sim a lamentar. Em outros tempos, seria apoiador desta homenagem, mas não durante essa terrível situação que estamos enfrentando. Resumo: Sou contra." Juliano Valim (PSD)
"O presidente Bolsonaro, que carrega em seus ombros uma tragédia humanitária que resulta em mais de 500 mil mortes e a CPI tem mostrado a incompetência no que se refere à aquisição das vacinas. Homenagear qualquer pessoa, autoridade que tivesse na sua trajetória um legado tão ruim desmerece o Legislativo da nossa cidade. A Câmara precisaria conceder esse título aos profissionais da saúde, da educação, da construção civil e tantos outros que têm trabalhado em meio a uma pandemia sem ter apoio." Lucas Caregnato (PT)
"O Novo tem por princípio que não se usa dinheiro público para troféu, homenagem. Então sou contrário que se faça qualquer espécie de troféu, medalha, o que for, para qualquer entidade ou dirigente. E independente disso, por que dar para um e não para outro? Uso de dinheiro público não é para isso, mas para quê distinção? Governador deu R$ 15 milhões e recebeu homenagem? Veio senador (Luis Carlos) Heinze em Caxias, ele recebeu?" Maurício Scalco (Novo)