Na história recente, o PDT assumiu protagonismo em Caxias do Sul quando Alceu Barbosa Velho (PDT) foi eleito prefeito municipal em 2012. À época, entretanto, o partido possuía sustentação junto a um bloco de agremiações, que encabeçava com o MDB e se consolidava no terceiro pleito consecutivo, após duas eleições de José Ivo Sartori (MDB). A coligação viria a se fortalecer na disputa eleitoral de 2016, passando de uma composição de 17 (em 2012) para 21 partidos. Contudo, a aliança viria a ruir após a chapa formada por Edson Néspolo (PDT) e Antonio Feldmann (MDB) perder para Daniel Guerra (sem partido, à época PRB). A ruptura geraria uma reformulação ao próprio direcionamento do partido: se naquelas eleições o PDT coligava com siglas declaradamente de direita, novas frentes e perfis de filiados de esquerda começaram a surgir, seguindo a ideologia de centro-esquerda característica do núcleo federal do partido.
As mudanças tornaram o embate de ideias mais evidente, e foram públicas as desavenças internas do partido, especialmente após apoio declarado do ex-prefeito ao então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro (sem partido, à época PSL) na eleição de 2018, ocasião em que outros filiados pediram a expulsão de Alceu. A crise agravou-se com manifestações reiteradas pelo vereador eleito Ricardo Daneluz (PDT) em apoio a Bolsonaro. Com a disjunção e uma coligação bastante reduzida, formada por apenas quatro partidos, o PDT perderia novamente a eleição em 2020, e desta vez sequer disputando o segundo turno.
— A alternância do protagonismo é inerente ao regime democrático — defende o presidente municipal do PDT, Maurício Flores.
As articulações internas, comandadas por Flores e pelo vereador e líder de bancada Rafael Bueno (PDT), buscam um alinhamento e um consenso entre as alas, o que espera-se consolidar na eleição para o diretório municipal no próximo dia 16 de junho. Apesar de ser citada como um modo de evitar aglomeração para eleição do diretório em razão da pandemia, o evento pode simbolizar a unificação política do partido na almejada chapa única.
— Estamos com partido unificado em Caxias, uma das pessoas que mais tem dialogado e sido um grande interlocutor é o Rafael Bueno e temos conservado sempre com o ex-prefeito Alceu. Temos trabalhado bastante na base do partido, o que tem sido significativo na questão do consenso.
O "gargalo Bolsonaro" já é assunto resolvido, na visão do presidente e de outros filiados, o que seria um dos principais fatores para a divisão dentro do partido. De acordo com Maurício, a posição de centro-esquerda é "entendimento pacificado".
PERSONIFICAÇÃO DO CONSENSO
Maurício Flores adianta que não pretende ser reconduzido à função de presidente, mas afirma que há um nome consensual sendo ventilado entre lideranças e filiados:
— Tem sido ventilado por todas as matizes do partido, que é da advogada Raquel Rota. Tem sido sugerida tanto por vereadores, grande parte da executiva, pelos candidatos, principais lideranças do partido, como o próprio prefeito Alceu, e sei que tem carinho do Néspolo. Acho que é um nome representativo.
Raquel, assessora jurídica do partido, participou de reunião junto com lideranças municipais com o diretório estadual no início deste mês.
Candidatos à vista
Na esteira da suposta reorganização do partido, porém, apenas um novo nome, o de Maurício Flores, surge nas indicações de possíveis candidatos às eleições de 2022.
— Nome preferencial é o nome do Alceu, Néspolo colocou à disposição o nome como pré-candidato, Pedro Incerti também. Além de, naturalmente, o Rafael Bueno e Ricardo Daneluz. E se o partido desejar, me coloco à disposição a candidato federal — comenta Flores.
À reportagem, entretanto, Alceu negou qualquer intenção ou interesse em disputar a eleição.
— De jeito nenhum — assegurou o ex-prefeito.
Outro nome mencionado nos bastidores é de Kalil Sehbe.
"O caminho natural vai ser o Daneluz sair do partido"
Representatividade de esquerda dentro do PDT, o comunitarista Paulo Sausen diz acreditar ser possível encontrar o consenso, principalmente porque alega que outrora apoiadores de Jair Bolsonaro reconheceram arrependimento em declarar voto no presidente.
— Aqueles que votaram no Bolsonaro hoje são pessoas que declaradamente se arrependeram. Vemos as declarações do Alceu Barbosa Velho, que foi a principal figura que declarou voto. Então, esse pessoal que discordava um pouco do caminho que o PDT sempre tomou, de centro-esquerda, de consolidação popular, hoje se arrependeram. Não vemos mais pedetistas que defendem Bolsonaro hoje em dia — afirma.
Ele reitera que a prerrogativa do consenso é justamente priorizar os princípios do próprio partido.
— Quem está interessado em buscar consenso e fez o mea culpa (em arrependimento ao apoio a Bolsonaro), temos de dar voto de confiança, a política é isso. São acordos possíveis sem se abrir mão do princípio. Nunca abriremos mão do princípio trabalhista, e os que querem se unir são bem-vindos, e o Alceu é uma figura muito importante
Com relação a Ricardo Daneluz, que mantém declarado apoio a pautas defendidas por Jair Bolsonaro, Sausen diz acreditar que o caminho natural será sua desfiliação do PDT:
— O Daneluz vai ter de se enquadrar (ao PDT). Se acha que não é o partido ideal, tenha a liberdade de sair. Acho que o caminho natural vai ser ele sair do partido. É isso que vejo no horizonte. Mas ele é uma pessoa num meio de um grupo muito maior, temos quase 7 mil filiados.
A referência política fundamentada pelo partido nos três níveis (municipal, estadual e federal) é a eventual candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência. A aposta é justamente ser a "terceira via" e, nas palavras de Maurício Flores, unificar filiados no argumento de que o pedetista seria "a melhorar alternativa para enfrentar o lulismo e o bolsonarismo" no país.