A partir de 1º de janeiro, o Legislativo caxiense voltará a ter três vereadores autodeclarados negros: a reeleita Denise Pessôa, e os estreantes Estela Balardin e Lucas Caregnato, todos do PT. A última e única legislatura com o mesmo número de parlamentares negros foi a 15ª, entre 2009 e 2012. A bancada era formada pela própria Denise, em primeiro mandato; Assis Melo (PCdoB), o mais votado entre os eleitos; e Edson da Rosa (PP, mas no MDB na época), reeleito. Edson foi o primeiro parlamentar negro eleito em Caxias, em 2005. Não há notícia de vereador negro no Legislativo caxiense desde 1892 antes de Edson.
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Em 128 anos de história, Caxias nunca teve mais do que três parlamentares negros em uma legislatura. Também nunca teve mais do que uma mulher negra. Por isso, as eleições de Denise e Estela é um marco para o parlamento caxiense.
— Ter três vereadores negros sendo duas mulheres mostra que a sociedade está disposta a refletir — avalia Estela, também a vereadora mais jovem eleita em Caxias.
Para Denise, o resultado que coloca os três companheiros de sigla no mesmo mandato é um avanço importante e fortalece a democracia, que ganha com a diversidade. O fato de o trio pertencer ao mesmo partido não é coincidência, segundo ela. É fruto de um trabalho partidário.
— O PT tem um compromisso étnico-racial. O PT tem cotas para negros, mulheres e jovens (na direção da sigla), e aqui está o reflexo — diz Denise.
— O primeiro espaço para discutir a questão racial (Coordenadoria de Promoção de Igualdade Racial) em Caxias foi criado no governo do PT — acrescenta Lucas.
PAUTA ANTIGA
Episódios recentes como a morte de George Floyd, estrangulado por um policial branco durante abordagem por supostamente usar uma nota falsificada de vinte dólares em um supermercado no Estados Unidos, em maio, e do menino Miguel, de cinco anos, que morreu após cair de um prédio no Recife, em junho, quando a patroa da mãe do garoto o deixou sozinho no elevador, podem ter feito a população refletir sobre a presença do negro na sociedade e até influenciado na hora do voto.
— Tem a questão da Marielle (vereadora do Rio de Janeiro assassinada em março de 2018). Por que as pessoas negras são mortas de forma tão violenta? É uma reflexão — analisa Denise.
Mas, para os três, a conquista de espaços importantes como o Legislativo tem raízes mais profundas. É o resultado de uma luta que sempre existiu. Lucas, que é historiador, reforça que os negros sempre tiveram voz, porém, estava na periferia. Com a presença nas instituições, ela ganha visibilidade. E é a partir disso que o trio pretende trabalhar para promover políticas que atendam à população negra. Um dos desafios é levar o debate para além do 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
— Como fazer para que o novembro não seja só aquele cartaz em escolas? — provoca Estela.
Ouvir a sociedade será um dos caminhos dos três, que esperam contar com o apoio de toda a sociedade, seja ela preta ou branca.
— A discussão não é só do Lucas, da Estela e da Denise. A gente precisa transcender — finaliza Lucas.
CANDIDATOS POR COR/RAÇA EM CAXIAS
Branca: 410 (78,85%)
Preta: 57 (10,96%)
Parda: 51 (9,81%)
Amarela: 1 (0,19%)
Indígena: 1 (0,19%)
Fonte: TSE
Outros cinco eleitos na região
Além dos três vereadores para a próxima legislatura em Caxias do Sul, a Serra e os Campos de Cima da Serra elegeram cinco parlamentares autodeclarados negros.
Em Garibaldi, a empresária de 28 anos Priscila Maria Dalpubel Chagas (MDB) fez 1.023 votos e conquistou uma vaga na Câmara Municipal. Ela já havia concorrido em 2016 e ficado como suplente.
Em Pinto Bandeira, a cozinheira Maria Inês Pagno (PDT), 48 anos, fez 109 votos. É a primeira vez que se candidata a cargo público, conforme consta no site da Justiça Eleitoral.
Em Bom Jesus, Velocino Tristão da Silva, o Baiano, e Daniel Silva de Oliveira, ambos do MDB, se elegeram com 472 e 364 votos, respectivamente. Baiano, que tem 65 anos e é trabalhador da construção civil, já foi vereador na legislatura entre 2009 e 2012. O técnico em Agronomia e Agrimensura Daniel, 39 anos, disputou uma eleição pela primeira vez.
Em Vacaria, Selmari Etelvina Souza da Silva (PT), foi reeleita vereadora para os próximos quatro anos. Ela tem 51 anos e fez 385 votos.
